7 de setembro de 2024
Percival Puggina

A cara do Brasil!

Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim”.

(Cazuza)

As coisas no Brasil funcionam assim. A corrupção levou até as moedinhas? Convoquem-se os ladrões. A política ficou suja e eleitores vendem votos a políticos que, depois, vendem os próprios votos nos parlamentos? “Estanque-se a sangria”, acabe-se com a Lava Jato, reelejam-se os patifes, expurguem-se os mais sérios. A democracia corre perigo, instale-se a censura. A insegurança é uma vergonha nacional? Chame-se o partido que não gosta da polícia, que defende penas curtas, desencarceramento, saidinhas e bandido na rua. As redes sociais fecharam a porteira do paraíso onde a oligarquia era feliz e não sabia? Instale-se a censura, prendam-se os recalcitrantes. O povo quer protestar? Que o faça em silêncio e, se falar, não desagrade as cortes.

Estou mergulhando na essência da “racionalidade” à moda da casa! Vamos em frente. O governo quer gastar mais? Criem-se novos tributos para esfolar quem produz. Faltam recursos financeiros para o futebol, para os esportes, para os hospitais? Crie o governo vários joguinhos e tome dinheiro dos trouxas. Transforma-se o país, então, numa sinecura em que se institucionalizaram as mais criativas maneiras de lucrar com a esperança dos miseráveis. Cometem-se centenas de milhares de abortos por ano? Encarregue-se o governo de executar a chacina com as luvas esterilizadas da irresponsabilidade essoal. Aborto público, gratuito e de qualidade, ora bolas!

É também por essa linha que andam os defensores da legalização das drogas e de seu comércio. Converteram-se elas em flagelo social? Encarregue-se o Estado de produzi-las e servir pó em bandeja para a farra dos usuários. Ou então, crie-se um sistema de quotas para traficantes e consumidores, fracionando-se o mercado. Afinal, alega-se, a repressão é inútil e só tem servido para enriquecer o submundo do crime. Poderíamos fazer algo semelhante com o contrabando, com os sequestros, com o estelionato e com os crimes cibernéticos. Viveríamos em paz num mundo onde só fake news seriam, enfim, duramente penalizadas.

Tributadas essas operações pelo leão da receita, as taxas e impostos estabelecidos permitirão que, em vez de perdermos cem por cento, recuperemos uma boa parte do que os bandidos nos levam. E os mercados dormirão em paz.

São tolices, sim, que fazem lembrar mais uma vez Tito Lívio sobre a Roma de seu tempo: “Chegamos a um ponto em que já não podemos suportar nossos vícios nem os remédios que os poderiam curar”.

N.A.: Texto inspirado em artigo que publiquei em setembro de 2018 na Gazeta do Povo. Como se vê, antecipei muito do que aconteceria quatro anos mais tarde.

Percival Puggina

Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no país.  Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de jornais.

Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no país.  Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de jornais.

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