10 de dezembro de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Essa é a imagem mais incrível que você vai ver hoje

John levantou da cama – na verdade, só ergueu um pouco o tronco para espiar lá fora. Era um belo dia de novembro, em 1941, a despeito de haver uma guerra mundial em andamento. Mas John pensou, mais uma vez, que era improvável que os nazis pensassem em pôr as mãos no Canadá, ainda mais ali, naquele fim de mundo, perto da cidade de Gold Bridge.

O nome fê-lo lembrar do dia de hoje: a ponte South Fork seria reinaugurada, após ser derrubada por uma enchente. Ele pensou que seria uma boa oportunidade para carregar com filme sua câmera novinha, grande, pesada e eficiente, comer cachorros-quentes e beber limonada fresquinha que, com certeza, as crianças estariam vendendo em barraquinhas. Com sorte, poderia tirar algumas boas fotos e vender para o pasquim da cidade. Com um pouco mais de sorte, poderia até arrumar uma namorada – por que não?

Arrumou-se com esmero. Primeiro, as ceroulas – com sol ou não, faria FRIO mais tarde, ainda mais ali, tão perto dos Grandes Lagos. Depois, a calça, camisa, o paletó. Escolheu a gravata com cuidado, caprichando no laço, lembrando mais uma vez das moças. Escovou o chapéu Panamá. Acondicionou a câmera no estojo e saiu.

Em pouco tempo chegou à ponte. Uma pequena multidão se aglomerava, fingindo prestar atenção nos discursos dos políticos locais. Havia balões coloridos, muitos, alguns escapando para o céu azul. Crianças se acotovelavam em torno das barraquinhas de jogos – pescaria, atire bolas e ganhe um urso Kodiak de pelúcia, uma marreta para medir a força – e de limonada. O cheiro do molho de cachorro-quente enchia o ar. Seu estômago roncou. Ele começou a fotografar.

Uma águia de cabeça branca pousada na estrutura da ponte. Um coiote entrevisto à distância. As gralhas barulhentas roubando migalhas de pão. John fotografou. Fotografou. E, com o filme quase acabando, foi que ele VIU.

E ficou SURPRESO por não ter visto antes. Ali, em meio à multidão, e ao mesmo tempo parecendo NÃO FAZER PARTE DELA. O homem. O ESTRANHO.
Ele se destacava tanto quanto um camundongo num pote de arroz e por isso John ficou estupefato por não tê-lo percebido até então.

O cara não usava chapéu – o que, naqueles dias, era quase o mesmo que estar nu, pensou. O cabelo ostentava um corte ENGRAÇADO. A camisa, estranha, por baixo de um casaco igualmente estranho, com uma letra M ou W, ele não conseguiu definir – que DROGA de roupa era AQUELA? E a câmera? John nunca tinha visto uma câmera assim, tão… portátil? E que ÓCULOS eram aqueles?

Mas o pior era a expressão do cara – enquanto todos à sua volta pareciam se divertir com algo que estava sendo dito no palco armado para a reinauguração, o cara estranho olhava para baixo, com um ar de estupefação, quase como se estivesse se perguntando: “mas que droga de lugar é esse?! O que estou fazendo aqui?!”

John apontou a câmera para a multidão e focalizou disfarçadamente o estranho – por algum motivo, ele decidiu que não queria que o homem percebesse que estava sendo fotografado. Conseguiu tirar uma foto e verificou mais uma vez quantas imagens ainda restavam. Quando levantou o olhar de novo, o homem estranho tinha SUMIDO.

John olhou em volta. Estavam em campo aberto. O cara não poderia desaparecer daquele jeito. Nem se misturar à multidão, vestido daquela forma.

Ele olhou em volta, correu até o perímetro formado pelas pessoas em volta da ponte, se aproximou do palco – um político jurava que a obra marcaria uma nova era para a cidade – e voltou até onde estava, exausto e suarento. A águia o observava, parecendo achar graça do seu comportamento.

John não tornou a ver o estranho homem. Mas uma bela moça sorria, próxima à barraquinha de cachorro quente. Ele guardou a câmera. Quem sabe não teria sorte?

(N.A.: a foto é de autoria desconhecida, e foi descoberta em 2010, em uma exposição do Museu Bralorne Pioneer. A imagem foi examinada e não se constataram evidências de fraude. Pesquisadores afirmam que, embora bastante incomuns, os óculos de sol, as roupas e a câmera usadas pelo estranho – que foi apelidado de “O Viajante do Tempo Hipster – já existiam na época. Podemos acreditar nisso – ou podemos crer que o bom e velho John realmente fotografou, em novembro de 1941, um legítimo viajante do tempo.)
Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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