O depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo hoje na CPI foi interessante sob vários aspectos.
O mais importante deles talvez pudesse ser esta reação das pessoas surpreendidas em algo incômodo: nada é nada disso que estão pensando.
Nos textos de artigos e entrevistas, Ernesto Araújo sempre foi muito claro ao dizer que a pandemia era uma arma ideológica e que o comunavirus estava aí para reduzir as pessoas a escravas do tecnoautoritarismo.
É uma monumental ideologização do coronavírus. No entanto, ele com maior tranquilidade dá a entender que os outros é que são ideológicos ao examinar o tema.
Respostas estranhas. O Brasil se recusa a assinar um documento internacional de combate às fake news e desinformação na pandemia. Ele afirma que decidiu isto para preservar a liberdade de expressão. No entanto, os outros países que se recusaram a assinar o documento são internacionalmente conhecidos por não respeitarem a liberdade de expressão.
Todos os embates com a China, dele, do filho do presidente e do próprio Bolsonaro foram minimizados. Na opinião do ex-chanceler eram só uma tentativa de melhorar as relações entre os dois países.
Araújo é um dos teóricos da direita alternativa no Brasil. É um admirador de Trump e acha que é preciso salvar o mundo com os valores cristãos.
Foi um adversário da OMS não pelos equívocos da própria OMS mas porque acha que não é necessário um órgão internacional para realizar o trabalho de países independentes.
Da mesma forma, condena as políticas contra o aquecimento global por considerar que sejam também uma forma de limitar autonomias nacionais.
É um intelectual que procura, como Steve Banner e Olavo de Carvalho, dar um sentido à política de extrema direita que viveu seu auge com a ascensão de Trump ao poder e iniciou seu declínio com a derrota eleitoral e tentativa de invasão do Capitólio.
O mesmo cenário está sendo preparado por Bolsonaro com essa história do voto impresso.
O Brasil deu um grande passo à frente com o voto eletrônico. Participei e fui derrotado em várias campanhas, jamais desconfiei do sistema de votação.
O voto impresso vai custar caro e nos leva ao passado. Como disse alguém: daqui a pouco iniciam uma campanha pela volta do orelhão.
Mas as campanhas eleitorais costumam ser muito nítidas. Certas derrotas podem ser tão cristalinas que ninguém vai se importar em questioná-las exceto uma belicosa minoria.
Dia da CPI passa rápido. Há muita redundância, discursos erráticos, e você se pergunta se ganhou ou perdeu o dia. Com tanta coisa para ler e fazer, preferia uma versão mais condensada, intervenções mais curtas e mais diretas.
Enfim, pelo menos foi um dia cinzento no Rio. Lá fora, não estava assim tão radiante como nesses dias de maio.
Fonte: Blog do Gabeira