13 de maio de 2024
Colunistas Fernando Fabbrini

Só matando

As trapalhadas ambientais do bicho-homem.

Foto: Hélvio

Observando os tentilhões de Galápagos, o velho Darwin maravilhou-se com as adaptações naturais das aves aos ambientes, enriqueceu seus estudos e ampliou os horizontes da ciência. No entanto, se soubesse o que andam fazendo hoje com certos animais, certamente escreveria uma nova teoria – a da “Involução” – tendo o bicho-homem como protagonista dos estragos. Visando a lucros, humanos inventam modas, metem o nariz onde não devem e espalham prejuízos.

A tilápia – criada por todo lado – começa a virar um problema. Embora seja um peixe de água doce, ela pode sobreviver no mar. Biólogos já registraram ocorrências de tilápias na costa brasileira do Maranhão até Santa Catarina, interferindo no equilíbrio da fauna marinha original. Esses peixes escaparam dos criatórios e agora usam o oceano como rota de transição, subindo através da foz de outros rios e expandindo sua presença danosa.

Também no mar brasileiro, um novo problema: o peixe-leão tem espinhos venenosos e toxinas que causam febre e convulsões nos banhistas. O terrível intruso já apareceu no arquipélago de Fernando de Noronha e em certos pontos da costa nordestina, reproduzindo-se e devastando espécies nativas. Como um peixe da Ásia veio parar no nosso litoral? Muitos invasores chegam através da água do lastro dos navios que enchem os tanques lá e os esvaziam aqui – com imundícies e ovas. Há outra hipótese: por um descuido idiota, um imenso aquário na Flórida liberou inúmeros peixes-leão no Atlântico.

O chefão do tráfico Pablo Escobar – além da cocaína – era fascinado por hipopótamos. E não titubeou em trazer alguns para seu zoológico particular. Embora pareça um bichão tranquilo, o hipopótamo está entre os maiores causadores de ataques fatais a humanos. Com a morte de Escobar, eles se dispersaram e se reproduziram, virando um estorvo para os colombianos: nesta semana, o governo anunciou que, sem alternativa, terá de sacrificar mais de uma centena deles.

No Brasil, burrices semelhantes. Nos anos 1980, criadores importaram ovos do caramujo africano e apostaram na introdução do molusco nos menus nacionais, na esteira do sofisticado escargot. Ninguém gostou, não deu certo; os caramujos foram abandonados e se adaptaram rapidamente ao novo habitat, reproduzindo-se e tornando-se uma praga de quintais e lavouras, transmitindo doenças como a meningite eosinofílica e a estrongiloidíase.

Agora, outro bicho perigosíssimo, predador feroz e incontrolável, vem assustando populações e produtores rurais do Sul e do Centro-Oeste: o javaporco. Vindos do Uruguai, eles são o resultado do cruzamento do porco doméstico com o javali – na teoria, um sucesso de mercado; na prática, um desastre. Furiosos, em bandos imensos, atacam lavouras e devoram tudo. Além de predadores e agressivos, há ainda o perigo sanitário: repositórios de bactérias e patógenos, javaporcos podem transmitir febre aftosa, doença de Aujeszky e outras.

Pasmem: desde 1989, a população de javaporcos cresceu 500% no Brasil. Em total descontrole, a única forma de contê-los é a mesma adotada por outros países: infelizmente, à bala. Mas o atual ocupante da Presidência protege essas pragas: além das restrições vingativas às armas na área rural, criou impedimentos burocráticos para a caça ao javaporco, prejudicando milhares de produtores – bem ao estilo anacrônico, incompetente e malfadado desse governo.

Portanto, não se espantem se em breve aparecer uma ONG “Javaporco Amigo” com verba pública ou uma “Comissão Especial para Pesquisa, Inclusão e Apoio ao Javaporco Refugiado” – entidade inútil com centenas de cabides de empregos. Ou melhor: com centenas de tetas nas quais companheiros do partido e ambientalistas de fachada mamarão em paz, felizes como porquinhos gulosos.

Fonte: O Tempo

Fernando Fabbrini

Escritor e colunista de O TEMPO

Escritor e colunista de O TEMPO

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