26 de outubro de 2024
Editorial

Lula e o discurso pra sua claque

Imagem: BBC

Lula defende a ampliação da faixa de isenção do imposto de renda que, atualmente, é de cerca de 2.300 reais, e ele quer, porque quer, que seja de, pelo menos, 5 mil reais, ou seja, ele quer mais que dobrar a referida faixa atual.

A USP (ultra esquerdista) estima que a faixa de isenção neste valor pode derrubar a arrecadação e concentrar renda. Defensores da proposta dizem que a tabela do Imposto de Renda está defasada em relação à inflação há anos, e têm razão nisso.

Ainda segundo a USP, para compensar essas perdas, o governo teria que aprovar também um combo de aumento de impostos que impactaria, não só o topo da pirâmide, por exemplo com a volta da taxação de dividendos (lucro distribuído por empresas a acionistas), mas também a própria classe média, com o eventual fim das deduções dos gastos em saúde e educação da renda a ser tributada.

Os mais pobres, por sua vez, não tendem a ser beneficiados por aumentos nas faixas de isenção — justamente por terem rendas muito baixas, esse grupo já não paga IR hoje. Fica uma contradição entre o que quer o presidente e a realidade.

Este aumento era uma promessa de campanha, mas isso significa uma renúncia fiscal pesada! Segundo a Unafisco (União dos auditores fiscais da Receita Federal), estamos falando de uma renúncia anual de 200bi/ano. Isso mesmo, você não leu errado, 200bi por ano!

Isso é mais do que o país gasta com o Bolsa Família ou, chega quase a empatar com o orçamento atual do Ministério da Saúde, segundo a Unafisco.

Como o governo, atualmente, já não consegue pagar todas as suas contas com o dinheiro que arrecada hoje, Lula precisa encontrar uma fonte de receita adicional e, neste caso, monumental, pra compensar esta renúncia, que é pra lá de gigante.

Em razão disso, Lula apontou a fonte: “os mais ricos”. A gente nunca sabe, exatamente, quem são, porque, em geral, os mais ricos formam uma nuvem difícil de definir.

Para isso a Unafisco pegou a “classe A”. Você sabe quem é classe A no Brasil? É uma expressão muito bonita mas, para a Receita Federal, classe A são pessoas que têm uma renda mensal de > 20 mil reais/mês, ou seja, 4x a faixa pretendida por Lula. Daria, hoje, cerca de 8 milhões de pessoas.

Agora vamos para a nossa matemática, da qual eu fugia igual ao “diabo que foge da cruz”.

Se essas pessoas, com renda anual a partir de 240 mil reais/ano (20mil/mês) fossem pagar a conta dos 200bi de renúncia fiscal, cada uma delas teria que desembolsar 25 mil reais por ano, ou seja, mais do que ela recebe em um mês da renda delas.

Vamos então dar uma subida na pirâmide social, vamos ser mais rigorosos: vamos separar as pessoas com patrimônio de, pelo menos, 1 milhão de dólares. Isto abraçaria 460 mil pessoas no Brasil.

Se essas pessoas, com este patrimônio, fossem cobrir os 200bi de renúncia fiscal, cada uma delas teria que desembolsar 450 mil reais por ano de imposto a mais.

Faz sentido isso? Claro que não, mas ainda assim, “taxar os mais ricos” é um antigo discurso (mantra) da esquerda.

Os mais ricos, para a esquerda, são “pessoas malvadas, sem espírito público, consumistas, com o péssimo hábito de comprar produtos de luxo em vez de financiar os projetos sociais da esquerda”. De repente, sei lá, dando um dízimo para o PT (rs).

Os mais ricos, para a esquerda, são, realmente, uma fonte dos problemas nacionais.

Aí, a esquerda prefere apontar o dedo para os “super ricos”, sem nunca dizer, exatamente, quem são, mas que, não por acaso, são os mesmos empresários que Lula quer investindo no país.

Quando Lula se reúne com empresários, ele está se reunindo “com os mais ricos”, ou com “super ricos”.

Neste caso ele faz questão de dizer que o governo defende a produção, defende a estabilidade jurídica, e quer regras claras, mas aí se sai com este discurso de choque de classes.

O mantra do rico contra o pobre! Longe de mim dizer que Lula é comunista. É sim um populista, mas este discurso está pra lá de furado, não é mesmo?

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *