19 de setembro de 2024
Ricardo Noblat

A única vacina contra o vírus Marçal é deixá-lo de fora dos debates

Vale tudo por audiência

Uma regra eleitoral estabelece que as emissoras de rádio e de televisão são obrigadas a convidar para debates só os candidatos filiados a partidos com representação mínima no Congresso. Quer dizer: o partido deve ter ali, no mínimo, cinco parlamentares.

O partido Novo, por exemplo, não tem. Por isso, o senador Eduardo Girão, candidato a prefeito de Fortaleza, foi retirado do debate promovido pela TV Otimista. Girão chegou a participar do primeiro bloco do programa. A Justiça Eleitoral ordenou sua saída.

Girão saiu dizendo que foi censurado:

“Quem é que tem medo do que a gente vai falar? Eu fico surpreso com isso no meio do debate. É um desrespeito com as pessoas que estão assistindo.”

O PRTB, partido de Pablo Marçal, não tem representantes no Congresso, e no último dia 14, a Justiça de São Paulo mandou despejá-lo de sua sede na Zona Sul da capital por dívida com aluguel. Por que Marçal, ainda assim, participa de debates?

Porque as emissoras o convidam a pretexto de oferecer espaço a diversas vozes. São 10 os candidatos a prefeito. Quatro deles sem voz nos debates até aqui: Altino Prazeres (PSTU), Bebeto Haddad (DC), João Pimenta (PCO) e Ricardo Senese (UP).

A razão que pesa a favor de Marçal é que ele dá Ibope, como se dizia no passado. Sem suas mentiras, provocações, desaforos, ataques de baixo nível aos adversários, a audiência seria definitivamente menor. O eleitor nega, mas baixaria o atrai.

Se Marçal dá mau exemplo, paciência. Se ele reforça a impressão de que a política é assim mesmo, e de que os políticos não prestam, paciência. Se ele dissemina as notícias falsas que o bom jornalismo condena, paciência. Se a democracia perde com isso, paciência.

Debate migrou da órbita do jornalismo para a do entretenimento. Interesse público virou interesse do público. Se antes os jornalistas tapavam os ouvidos aos que os liam, viam e escutavam, hoje se rendem aos instintos mais primitivos da plateia.

No que tudo isso vai dar, não sei. Mas pelo andar da carruagem, imagino que não dará em coisa boa.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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