28 de março de 2024
Yvonne Dimanche

Três histórias envolvendo mendigos


1) Estava eu caminhando pela Rua do Catete quando vi um mendigo sentado em um papelão na calçada relativamente limpo e ignorando quem passava por ele, por estar absorto ao ler o livro “A Montanha Mágica” de Thomas Mann. Inacreditável.
2) Eu não sei se vocês conhecem, mas no Rio vez por outra aparecem umas ciganas caboclas sem nenhum traço europeu. Uma vez uma delas perguntou se eu queria que ela lesse a minha mão. Respondi secamente que não. Estava indo a uma loja quando ela gritou “cuidado com a carteira” umas duas vezes. Tremi. Cigana cabocla ou não, eu tenho medo de praga. Andei rápido, até que a carteira caiu do bolso da minha bermuda. Ela estava apenas me alertando.
3) 1972, eu tinha 18 anos e foi o ano mais infeliz da minha vida. Ninguém merece isso. Trabalhava no Unibanco e saí para almoçar com o firme propósito de abandonar o emprego. Ninguém no mundo era mais infeliz do que eu. Exageros de uma ariana, até que vi dois mendigos: um cego e o outro paraplégico. Os dois não paravam de gargalhar. Riam, riam não sei bem do que, mas riam. Estavam felizes e eu ali novinha, lindinha, com uma vida invejada pela maioria da população mundial me sentindo triste. Não foi nenhuma frase de efeito tipo Paulo Coelho (não era sucesso nessa época). Foram dois mendigos que me deram uma linda lição de vida.

O Boletim

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