28 de março de 2024
Yvonne Dimanche

Lembranças de 1964


O Brasil pegando fogo, golpe militar, a cidade do Rio de Janeiro praticamente parada, mas que delícia. Não sei quantos dias sem aulas. Eu tinha dez anos.
Brincadeiras? Só na nossa rua sem saída e NEM PENSAR em chegar até a esquina na Rua do Humaitá. É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte, diria não sei quem.
Os supermercados fechados, acho eu, e quem vendia alguma coisa era na base do câmbio negro que ouvi falar pela primeira vez. Nenhuma criança dessa idade merece saber o que significa câmbio negro.
Naquele tempo a minha família não estocava nada. Comprava-se o que era necessário por poucos dias. Talvez o motivo fosse a inflação sob controle. Não sei ao certo e nem vou pesquisar. Não havia urgência para nada, os dias demoravam 72 horas para passar.
Como nem todo mundo é canalha, o Seu Oliveira, dono de uma quitanda que ficava exatamente na esquina proibida para crianças, deixou as portas semicerradas e atendeu todos os seus fregueses sem cobrar um único centavo acima do preço normal. Hombridade é pouco.
Por qual motivo esse papo Dona Yvonne? Porque em Guarapari tem posto de gasolina cobrando NOVE REAIS o litro. Isso é nojento e não me venham falar de lei da oferta e da procura.
E hoje fomos ao médico do meu marido e ele passou as receitas dos remédios controlados que normalmente compramos. Nem todos eles, como também outros, são encontrados aqui com facilidade. Pede-se hoje, recebemos no dia seguinte. Eles compram em Vitória com o fornecedor, laboratório, sei lá o quê.
Com essa greve fiquei com medo de demorar a receber, mas o dono da farmácia falou comigo que, caso eles não consigam vir de Vitória para cá, alguém vai para lá nem que seja de bicicleta. Nós somos clientes fiéis, como também outras pessoas com doenças graves que não podem ficar um segundo sem a medicação, o que felizmente não é o nosso caso. Ainda temos alguma coisa e mesmo que acabe o maridão não vai morrer.
Então amigos, nada como ser honesto, um bom cidadão preocupado com o próximo. Quanto ao posto de gasolina, nem sei qual é. Não temos carro, a minha filha é que tem e ela só abastece em Vitória que nos dias normais é UM REAL mais barato, ou melhor, aqui é que é MAIS CARO.
Vamos falar mal dos políticos?

O Boletim

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *