21 de setembro de 2024
Walter Navarro

Paris é uma fresta

Oi! Tudo bem? E a família? Há tempos e ventos que não escrevo, aqui. OK; fiz falta nenhuma. Leia quem quiser, não fiz o L, mas liguei o F.
A quem interessar, depois de nove, ou no caso, 42 anos, voltei à Paris. Paris é a capital da França, às vezes, do mundo. Fiz algumas anotações para eu gastar e vocês perderem tempo.

Paris também é uma fresta no Túnel do Tempo. Nós passamos, ela fica e renasce a cada ano.

Chamei as notas de “Os Três Mosqueteiros”. Porque, no inverno de 1982, três despreocupados jovens – um pleonasmo – participaram de intercâmbio em Paris. Pelo “Experimento”, Celso Lotaif vinha de São Paulo (SP); eu, de Campinas, onde morava com a família, também em São Paulo e, pela “Aliança Francesa”, Maurício Campos, de Belo Horizonte. Nenhum conhecia os outros dois. Na foto ilustrando o texto e pela ordem: Maurício, eu e Celso, sob a cúpula da Bourse de Commerce que abriga a “Pinault Collection”.

O grupo do “Experimento” era formado por mais oito estudantes, incluindo moças – uma delas, muito bonita, “espanhola” e gostosa, por quem me apaixonei, rapidamente, “AP” – oriundas de Sorocaba (SP), BH e Rio de Janeiro (RJ). Curso na Aliança Francesa, de Paris e, nos fins de semana, viagens pela Europa. Foi na fila do trem para Amsterdam, Holanda, que Maurício foi ‘adotado’ pela festiva turma. Na volta, estava formada a trinca de amigos, para sempre.

O mais que clássico filme, “Casablanca” (1942), é famoso por seus diálogos “Tramontina”, “corte rápido”, principalmente os pronunciados pelo ator principal, Humphrey Bogart (Rick). Para consolar a mulher amada, Ingrid Bergman (Ilsa), que ele “perdia”, pela segunda vez, Rick diz a Ilsa: ‘Nós sempre teremos Paris’. Fechando o filme, “Rick” declara ao “Capitão Renault” – que o ajuda na fuga dela, perseguida pelos nazistas: “acho que este é o começo de uma bela amizade”. Pronto, temos “Os Três Mosqueteiros e o número 2: Paris, 1942; Paris, 1982 e Paris, 42 anos depois. Isso, sem falar que, no próximo dia 9 de outubro, completo 62 anos, de pura travessura.

Paris 42 anos depois porque, no início de setembro, Celso, Maurício e eu, depois de muitos encontros em São Paulo e BH, finalmente voltamos a Paris. Só os três e, assim, Paris voltou a ser uma festa, como a definiu Ernest Hemingway. Sim, 42 anos não são 42 dias. Estamos bem diferentes, mais velhos e sábios (?), mas, por uma semana, eles voltaram aos 17 anos; eu, aos 19.

“Um por todos e todos por um” foi o tema e o lema da viagem. Relembramos casos, piadas e revisitamos lugares mágicos, na cidade mais linda do mundo. Ignoramos solenemente os Jogos Olímpicos e tentamos esquecer o Brasil e suas mazelas que nos perseguiam, via tecnologia que, em 1982, nem existia. Mas nos divertimos sem moderação, não com programas pós-adolescentes, mas de homens rejuvenescidos por Paris.

Sempre juntos, visitamos o vizinho – e atalho para o metrô – cemitério de Montparnasse, onde descansam ilustres franceses, como o casal, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, o ex-presidente da França, Jacques Chirac; o compositor e cantor Serge Gainsbourg, sua Jane Birkin; o escritor argentino, Julio Cortázar, entre dezenas de outros. O bom e velho metrô, com trens novos, mas alguns ainda de 1982. Metrô para monumentos, os mais charmosos bairros, restaurantes, pubs, bistrôs e várias exposições de arte.

No bom, velho, perfumado e inesquecível metrô de Paris, com barulhinho típico e bom, o “Reencontro Marcado”. Em 1982, depois de dois meses, Celso e Maurício voltaram para o Brasil e eu fiquei mais dois meses viajando de trem pela Europa. Em 2024, a mesma coisa, mas em dias. Celso voltou para São Paulo; Maurício, para Lisboa, antes de BH. Eu fiquei mais cinco dias, sozinho, com Paris inteira, menos divertida e amiga, mas só para mim.

Dicas? Claro! Pela ordem: o lindo e escondido “Marché de la Place Sainte-Catherine”, no bairro Marais, repleto de galerias de arte, chopes na calçada dos 1001 bistrôs e cafés. Bem mais tarde, em Montparnasse, onde estávamos; jantar num vietnamita, que também são vários. Apesar de tudo, ou por causa das Olimpíadas, Paris está mais linda que nunca: Bastilha e sua ópera, ruas incríveis e o fantástico Museu Picasso. No outro dia, em outra noite, jantar, com reserva, no “Au 35”, arrabaldes do imbatível Saint-Germain de Prés.

A exposição, “100 anos do Surrealismo”, Centro Pompidou e almoço lá mesmo, no restaurante panorâmico, “Georges”. E porque isso aqui é apenas esboço de uma crônica “Frankenstein”; um resumo e muitas faltas: o novo “Les Halles” e na falta de Notre Dame, que só será reaberta, dia 8 de dezembro; infinitas outras lindas igrejas.

No mais, a velha e linda rua de Rivoli, Louvre e sua pirâmide, a tocha olímpica, Place Vêndome, Ritz, Ópera Garnier, Café da La Paix, L’Olympia, Madeleine, Bourse de Commerce. A fantástica Fondation Louis Vuitton, com Matisse; o estrelado restaurante ‘Benoit’ e o clássico “Le Procope”. Concerto de Vivaldi, na sem igual “Sainte Chapelle”! No mais, da bagunça do “Mercado das Pulgas” ao luxo das “Galerias Lafayette”.

Fim da aventura, nós sempre teremos Paris, começo da mais bela amizade. “Au revoir!”.

PS.: Fim, mais ou menos, porque ainda teve um capítulo em Lisboa e assim, a vida continua, como o show. Conto se puder e quiser. “Bye-bye e erci”

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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