29 de março de 2024
Colunistas Walter Navarro

Parece que foi Yesterday

Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Esta pergunta é boa, mas muito rodada.
Pensei em outra. Qual foi a última vez que você deu um “stop”, parou um filme logo no início, para transar?
“Yesterday”?
Estou perguntando porque “Yesterday” eu assisti à “Yesterday”, enquanto muita gente ainda tenta terminar às 3h30 de “O Irlandês”. Parei (dormi) aos 49m do primeiro tempo, mas as buscas continuarão, assim que eu tiver mais 2h30 livres, na próxima sexta.
Mas ontem foi domingo e, no final da tarde, deu para ver “Yesterday”, que não é sobre transar: primeira, nem última vez, mas sobre uma única vez.
Recomendo.
A ideia do diretor Danny Boyle é boa, mas tem algumas coisas que não pegam, não grudam, melhor, não colam.
Tem um músico frustrado e fracassado, Jack.
Uma noite, voltando para casa de bicicleta, é atropelado por um ônibus e quase morre.
Em vez de morrer, Jack perde dois dentes. E em vez de perder a memória junto, acontece o contrário: as pessoas, à sua volta e no mundo inteiro, perdem a memória e não sabem quem foram os Beatles, pode?
Fiquei pensando nisso. O cara cai, bate a cabeça e quem perde a memória é o resto do mundo? Não deveria ser o contrário?
Mas tem um detalhe.
Jack é atropelado, ao cruzar uma esquina, no minuto de um apagão à mesma hora, em todas as partes do mundo.
Na verdade, a história fica mais esquisita ainda.
Jack não perdeu a memória exatamente porque desmaiou?
O que tem uma coisa a ver com a outra?
Por exemplo, e quem estava dormindo na hora do apagão? Porque todo mundo, exceto Jack e mais dois estranhos misteriosos são os únicos que conhecem os Beatles?
Os dois estranhos, um homem e uma mulher, secretamente, conheciam os Beatles, mas não eram músicos, não sabiam as letras inteiras, não tocavam instrumentos, podiam contar para ninguém, passariam por loucos. Jack era e sabia…
Outra coisa estranha, sem explicação ou que não entendi.
Junto com os Beatles, somem também os cigarros e a Coca-Cola.
Jack procura Beatles no Google e só acha “beetle” (besouro).
Procura “Coke” de Coca-Cola e só aparece “coke” de cocaína ou o próprio Pablo Escobar, kkk.
Procura “Cigarette”, para cigarros, e só descobre a cidade de Cigarette, na França.
Agora, por que um apagão apagaria Beatles, cigarros e Coca-Cola? Os Stones estavam lá, assim como a Pepsi…
E “Yesterday” tem nada a ver com outros famosos filmes de Boyle, como “Quem Quer Ser um Milionário” e menos ainda com “Trainspotting”.
Mas é engraçado, emocionante e original ver e ouvir alguém tocar Beatles como se fosse pela primeira vez. Difícil imaginar alguém não conhecer, mas apaixonar-se por “Yesterday” e nem ligar para a “primeira vez” de “Let it Be”.
E seguindo o filme, impressionante perceber como os Beatles só fizeram músicas boas, tudo clássico. Mesmo as mais bobas, as primeiras e as que hoje, quase 50, 60 anos depois, não fariam sentido. Como falar em URSS quando hoje é só Rússia.
Bom também é quando Jack, para explicar “suas músicas” maravilhosas, começa a visitar a origem delas, com uma diferente cidade de Liverpool, a boba rua Penny Lane, o feio orfanato “Strawberry Field” ou ainda o abandonado túmulo de Eleanor Rigby…
Voltando aos dois desconhecidos que conheciam Beatles, a mulher dá um endereço a Jack.
Ele procura e acha, numa casinha isolada, ninguém menos que John Lennon, aos 78 anos que também não conhecia os Beatles. E o ator que faz Lennon é realmente muito parecido com John, se não tivesse sido assassinado em 1980, em NY, aos 40 anos.
O que mais?
Mais nada. “Após sofrer um acidente, um cantor e compositor acorda em uma estranha realidade em que ele é a única pessoa que lembra dos Beatles. Com as músicas de seus ídolos, ele se transforma em um grande sucesso, mas a fama tem seu preço”. Blá, blá, blá.
Tirando o absurdo de um mundo inexplicavelmente sem Beatles, cigarros e Coca-Cola, para variar, uma chatinha historinha de amor, onde o boi não dorme, nem desocupa a moita.

Ahhhhhhh o Amor! Prefiro Stones.

PS: Lennon ou McCartney? John era mais Lennon, Beatles mesmo, até hoje, é Paul. Tem gente que prefere George em Nárnia. Ringo era o patinho feio dos quatro.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

1 Comentário

  • Flavio R 27 de março de 2021

    Acho que você não entendeu a história! =)

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