Andando na contramão da ciência e do bom senso, nosso presidente Jair Bolsonaro insiste em jogar um balde de água fria em qualquer intenção de se comprar uma vacina contra a Covid-19.
Por ser ainda um negacionista, os números de mortos e de infectados não o sensibilizam. Deve achar que a “gripezinha” está no fim e continua contando com a imunidade de rebanho. (Pela sua falta de informação generalizada, é de se supor que, na cabeça dele, isso queira dizer que seu gado está a salvo.)
Na noite da última quarta-feira, Bolsonaro disse ao seu rebanho que fica de plantão no curralzinho do Palácio da Alvorada: “Se tiver efeito colateral não vão cobrar de mim”.
Isso mostra claramente sua má vontade para com as vacinas. Até agora, a única atitude positiva tomada pelo Governo Federal foi a assinatura de uma MP que destina 2 bilhões de reais à aquisição da vacina de Oxford. (O Congresso aprovou a Medida Provisória esta semana, mas a compra ainda espera pelo taoquei da Anvisa). Fora isso, ele só faz procurar chifre em cabeça de cavalo quando trata desse assunto.
– Sei lá se a vacina não vai fazer mal pra vocês. (Como se o coronavírus fizesse bem pra alguém. Como se já não tivessem morrido mais de 175 mil brasileiros em decorrência dele.)
– O quê? Tem com comprar freezer para conservar essas vacinas? Tão pensando que é picolé e que vou gastar dinheiro com isso? (Não deve ter sobrado muito pra gastar depois que torrou R$ 1,5 milhão em insumo importado da Índia para a produção da “maravilhosa” hidroxicloquina que nem as emas aceitaram.)
– Vai precisar de duas doses? Nem pensar! Se uma campanha de vacinação já custa muito, imagine duas. Corta essa!
– Vacina do Doria. Ceis tão loucos? Eu não vou ajudar esse cara a levar os louros da fama e virar um salvador da pátria. Ele não vai ficar por cima da carne seca com minha ajuda, não! Que se lasque!
– A vacina do meu amigo Putin? É, até pode ser, mas se quem tomar a Sputinik for lançado pra Lua, não tenho nada a ver com isso. Hahaha!
E com essas e mais outras continuamos aqui pendurados na rabeira do mundo, enquanto dirigentes de outros países que entenderam a gravidade da coisa e realmente estão preocupados com sua população já começam a vacinação ainda este mês. É o caso do Reino Unido, onde o grau de civilidade extrapola as expectativas: a rainha Elisabeth, de 94 anos, e que, portanto, já está automaticamente no segundo grupo de prioritários, declarou que não vai furar a fila. Só toma quando chegar sua vez.
Aqui, neste reino totalmente desunido, mesmo não tendo certeza de que teremos alguma vacina, já tem neguinho prevendo que a farinha será pouca, tentando pegar seu pirão primeiro.
Um grupo de promotores do Ministério Público de São Paulo está entrando com um pedido para que sejam incluídos no grupo dos prioritários, pra quando começar a vacinação.
Ora senhores, com todo o respeito, data vênia, vão furar a fila em outro lugar.
Se insistirem nisso, sugiro que cometam (se já não cometeram) algum delito para que sejam presos. A população carcerária está na lista dos prioritários, e portanto os senhores não terão nenhum obstáculo a enfrentar. Serão imunizados gratuitamente, em seu devido tempo, e nem vão precisar sair do aconchego da cela pra ir até uma clínica ou a um posto de Saúde.
Eu, por minha vez, vou continuar aqui na torcida para que a vacina contra a Covid-19 chegue logo, e que os laboratórios que estão nessa corrida aproveitem para desenvolver também uma contra a burrice humana!
Mãe de filha única, de quatro gatos e avó de uma lindeza. Professora de formação e jornalista de coração. Casada com jornalista, trabalhou em vários jornais de Jundiaí, cidade onde mora.
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