16 de setembro de 2024
Editorial

Rescaldo olímpico

Não, nesta semana, por enquanto, não vou falar sobre o “problema” Alexandre de Moraes, pois ainda não tenho as informações necessárias para formar um texto opinativo. A princípio, acho que é a mesma coisa que fez o STF exterminar a Lava Jato, mas não quero fazer juízo de valor sem mais conteúdo. Vou esperar mais informações.

Não sou a favor de fugir dos problemas. Se há algo errado, é preciso admitir e ver como é possível consertar. Não adianta se enganar. Mas, durante a Olimpíada, foi uma maravilha deixar de lado um pouco o noticiário sobre política, economia e problemas das cidades para torcer pelos atletas, todos, independente do país que representam. Que maravilha ver gente que se esforça ao máximo para conquistar medalhas por mérito, respeitando as regras do jogo.

Dá um orgulho danado e, ao mesmo tempo, uma tristeza enorme porque políticos, empresários e toda a sociedade brasileira deveriam agir assim, mas fazem justamente o contrário. É lamentável.

No entanto, eu gostaria de falar sobre as Olimpíadas, sem “pachequismo”, mas torci bastante para os esportes que eu gosto.

A nossa primeira medalha de ouro no judô nas Olimpíadas de Paris, na pessoa de Beatriz Souza, é a cara do Brasil. Vinda do interior de São Paulo, essa vitoriosa atleta nos ajuda encarar os momentos complicados que vivemos. Quanta brasilidade! O sorriso vitorioso e a medalha de ouro fazem jus ao seu bonito desempenho.

Na ginástica olímpica, a nossa Rebeca Andrade deu show, não somente na brilhante atuação, como também em fair play, ao vibrar intensamente com a sua medalha de prata olímpica, perdendo para um monstro que é a Simone Biles. Parabéns, Rebeca! Vencedora, não somente na arte da ginástica, mas, igualmente, apesar de jovem, na arte de bem entender os valores e princípios éticos do esporte.

Vale também ressaltar a atitude da “extraterrestre” Simone Biles ao cumprimentar, efusivamente, a Rebeca – adversária, nunca inimiga – pela sua medalha de ouro. A foto acima das duas se abraçando foi emblemática e mostra o verdadeiro espírito olímpico. Rebeca subiu quatro vezes ao pódio e se tornou a atleta brasileira com mais medalhas olímpicas na história: seis! Também conquistou duas pratas. Uma delas no individual geral, que busca apontar a ginasta mais completa do mundo.

No vôlei de praia, as líderes do ranking mundial, apontadas como favoritas à medalha de ouro, Ana Patrícia e Duda não decepcionaram na linda arena montada aos pés da Torre Eiffel. Com uma campanha perfeita, elas conseguiram a medalha de ouro em uma decisão tensa contra as rivais canadenses.

Mas não devemos comemorar apenas as medalhas de ouro. As demais medalhas também devem ser comemoradas, e muito!

No futebol, a seleção brasileira chegou aos Jogos Olímpicos desacreditada. Em um grupo complicado, seria difícil confiar até mesmo na classificação. A vaga nas quartas de final se confirmou apesar das derrotas para Espanha – em que Marta foi expulsa – e Japão – que conquistou a virada nos acréscimos. No mata-mata, a equipe de Arthur Elias superou as favoritas: França e Espanha.

Uma das marcas dessa campanha foi sustentar os placares durante acréscimos incomuns, que superaram os 20 minutos. Na final olímpica, o Brasil foi melhor do que os EUA, mas pecou nas finalizações e foi derrotado por 1 a 0, ficando com a medalha de prata no jogo que marcou a despedida de Marta em jogos oficiais pela seleção.

Na Marcha atlética, aquele esporte esquisito com homens rebolando, Caio Bonfim trouxe pela primeira vez uma medalha para o Brasil. O brasileiro se manteve no pelotão da frente por quase toda a prova, mas sofreu penalizações que o obrigaram a diminuir o ritmo e limitar sua disputa pela prata. Após a prova, Caio se emocionou e lembrou das ofensas que recebia pelo movimento feito com os quadris para marchar. Legal, mas que é esquisito, é!

No surf, no Taiti, Tati Weston-Webb ficou perto de trazer uma medalha dourada. No entanto, a decisão dos juízes na avaliação da sua última onda deixou a gaúcha-havaiana com a prata, no entanto, Gabriel Medina, nossa grande esperança de ouro, ficou prejudicado pelas condições do mar, quando durante longos 2min não conseguiu qualquer onda compatível com o surf. Pra mim, a regra tinha que se mudada com relação ao tempo. Se não há ondas, o tempo tinha que parar e retomar ao voltarem as ondas.

Na canoagem de velocidade, Isaquias Queiroz obteve sua medalha de prata. Na disputa dos 1000 metros, o brasileiro protagonizou uma arrancada espetacular na reta final, ultrapassou 3 adversários e conquistou a prata. Foi sua quinta medalha olímpica.

Novamente, o judô com William Lima que, aliás, foi a nossa primeira medalha em Paris. Ele chegou à capital francesa distante da lista de favoritos. Na campanha, deixou para trás vários adversários importantes. Na final, foi derrotado pelo japonês. No pódio, o brasileiro quebrou os protocolos para comemorar com a família e mostrar a prata para o filho.

Ainda no judô, na disputa por equipes, conquistamos a medalha de bronze. Após cair para a Alemanha, o Brasil participou da repescagem, derrotou a Sérvia e encarou a Itália no último confronto. Depois de estar vencendo por uma boa vantagem, viu os italianos reagirem e igualarem a disputa. No sorteio, uma nova luta foi definida, com Rafaela Silva que derrotou a italiana Veronica Toniolo e garantiu um lugar no pódio para o País.

No skate street, a skatista de 16 anos – nossa antiga Fadinha – roubou a cena no primeiro fim de semana de competição nos Jogos de Paris. Apesar de uma classificação tensa para a final, Rayssa Leal conseguiu competir em alto nível e se recuperar na decisão para ficar com o bronze.

Já no skate park, o malabarismo jogou holofotes sobre Augusto Akio na disputa da final em Paris. O curitibano, que tem um estilo peculiar, fez uma volta perfeita na última tentativa e conquistou a medalha de bronze na Praça da Concórdia.

Na ginástica artística por equipes femininas nosso time também obteve um lugar no pódio. Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira representaram o país em todos os aparelhos. Depois de começar atrás, a equipe nacional conseguiu superar as adversárias na pontuação final do último aparelho e levou o bronze.

No boxe, nossa grande esperança de ouro Bia Ferreira foi derrotada na semifinal olímpica pela campeã Kellie Harrington, da Irlanda. O resultado deixou a boxeadora com o bronze. Foi a despedida de Bia dos Jogos. Agora ela vai focar na carreira no boxe profissional.

No taekwondo, Edival Pontes, o Netinho, conquistou a medalha de bronze, em uma campanha de recuperação que também passou pela repescagem. O brasileiro perdeu a luta de estreia para o vice-campeão olímpico Zaid Kareem, dos Emirados Árabes Unidos, e teve de torcer para o emiradense chegar à decisão, o que ocorreu. Assim, pôde participar da repescagem e derrotou o turco Hakan Reçber e o espanhol Javier Pérez para ficar com um lugar no pódio. Regras olímpicas…

No atletismo, o Piu, como é conhecido Alison dos Santos, era o principal nome do Brasil no atletismo. Depois de um ciclo muito promissor, marcado por uma grave lesão, a confiança do pódio foi restabelecida. No entanto, as fases preliminares da disputa dos 400 metros deixaram dúvidas sobre seu rendimento. Na final, Piu terminou a prova em terceiro lugar, ganhando o bronze.

Em geral…

Não foi o desempenho esperado. Foi abaixo de Tóquio, nossa melhor participação, mas temos que concordar que o nível de apoio aos atletas em países como os EUA, China e Japão, principalmente, nos colocam num nível muito abaixo, mas temos que continuar tentando, esperando um maior apoio do governo e das empresas no auxílio na formação e na melhoria de performance de nossos atletas.

Enfim, tem que ser fora de série para atingir um nível de excepcional desempenho numa Olimpíada. Todos os países se enchem de orgulho pelo desempenho dos seus, por que não devemos fazer o mesmo?

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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