19 de setembro de 2024
Editorial

Na disputa por uma cadeira, Marçal já levou a sua…

Há muitos anos, apresentava-se na televisão um grupo de falsos lutadores cujo personagem principal chamava-se Ted Boy Marino. Ele, depois que parou, chegou a jogar vôlei com meu pessoal no Leme, onde morava. Já faleceu…

O interessante do programa é que “quase” todo mundo sabia que a luta entre eles era teatro, mas, mesmo assim, a plateia presente torcia e se mostrava sempre animada.

Datena e Marçal me fizeram lembrar daquele programa. Marçal atacando, Datena se defendendo como podia, até que entornou o caldo.

Foi chocante, deprimente e uma cena vexatória de Datena, que arremessou uma cadeira contra Pablo Marçal, o que só vem a desgastar ainda mais a péssima imagem do político neste país ou de quem pretende sê-lo. Para quem ainda não viu, o vídeo segue abaixo.

O mais curioso dessa triste história é, o truculento Marçal, afirmar que vai entrar com uma ação para suspender os direitos políticos do seu agressor quando, na realidade, é o TSE quem deveria suspender os direitos políticos de ambos, pois, pelo visto, nenhum dos dois reúne a mínima condição para exercer uma função política.

A ministra Cármen Lúcia, atual presidente do TSE, tem que mostrar a conduta firme do “cala boca já morreu”… Que sejam punidos, com urgência, todos os infratores das normas de civilidade e decoro.

Depois de ser chamado de estuprador e provando que fora inocentado, Marçal voltou a atacar Datena:

“Você é um arregão. Atravessou o debate esses dias para me dar um tapa e falou que queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso”. Como que para se provar “ser homem” fosse preciso agredir alguém.

Isso foi a gota d´água. Datena, de pavio sabidamente curto, mordeu a isca, não arregou e proporcionou a Marçal a tão almejada foto de vítima.

Só que antes de ser mostrado no hospital – com pulseira verde que significa baixa gravidade – fez um teatro enorme na ambulância, de olhos fechados e com a máscara de oxigênio, para tentar mostrar que seu estado era grave. Era tudo o que ele queria, mídia!

Tudo bem que não precisava ser uma cadeirada. Desconfio que o ex-coach, produtivo como é, aproveitou a noite que passou internado e, enquanto contabilizava novos seguidores em suas redes sociais, escreveu mais um livro.

Pelo caminho que estamos indo, talvez o melhor seria que os debates fossem com almofadas, para maior segurança. A Rede TV, que promoveu na 3a feira outro debate entre os mesmos candidatos (incrível, né?), mas, por precaução, mandou parafusar as cadeiras de seu estúdio… não é piada, é sério!

No debate, transmitido pela Rede TV/UOL, começou no mesmo nível em que o anterior terminou: com os participantes trocando acusações, xingamentos e sem nenhuma discussão de propostas. O resultado foi uma chuva de pedidos de direitos de resposta no primeiro bloco, com pelo menos nove solicitações, além de bate-boca entre os candidatos.

No entanto, depois do início tenso, como era de se esperar, dominado por ataques pessoais, o debate, conseguiu dar mais espaço às propostas dos candidatos, sobretudo nos blocos finais, com planos sobre a saúde.

Aliás, vale uma reflexão quanto aos organizadores dos debates, pois enquanto um candidato tinha a palavra, o “perguntado” fazia com as mãos a inicial de seu nome, nitidamente, buscando desviar a atenção do espectador e desconsiderando o discurso do adversário.

Os responsáveis pelo programa deixaram acontecer essas transgressões ao limite da isonomia e da ética. Mantiveram as duas imagens, em tela dividida, sem anunciar restrição à molecagem. O respeito à democracia precisa que, não apenas os candidatos, mas que todos os envolvidos façam observar limites nos diferentes graus da escala de sua competência, assim como o direito do eleitor de fazer suas escolhas com base em critérios de igualdade e racionalidade.

Entretanto, um dos “diálogos” do debate merece destaque:

Com a mão direita enfaixada, cuidadosamente para deixar de fora seus três dedos que formam o “M”. Marçal trocou ofensas com Datena já no primeiro bloco. O influenciador repetiu sua fala do debate anterior, dizendo que o tucano “não é homem, e sim um agressor”, e comparou o adversário a um orangotango.

Datena respondeu: “Não bato em covarde duas vezes. Me arrependo desse ato, mas muitos juristas já consideraram como legítima defesa da honra pelo que você fez contra mim. Você vai falar comigo na Justiça”.

Bem, todos os candidatos disputam uma cadeira municipal, mas Marçal já recebeu a sua na noite de domingo. Ele, que adora cortes, agora tem um na cabeça e outro na mão.

Acho que Marçal se esqueceu do principal: seus adversários diretos são Nunes e Boulos, que estão, tecnicamente empatados com ele nas últimas pesquisas, e não Datena, que ainda derrapa nas pesquisas.

Mesmo nas pesquisas pós-debates, a disputa está apenas entre Nunes, Boulos e Marçal… Datena e os demais têm pontuações ínfimas, não os ameaçando.

É uma tristeza que isso aconteça num debate para a prefeitura da cidade mais rica e importante da América Latina. A estrela deveria ser o eleitor e não o candidato!

Definitivamente, os candidatos não temem a lei, e, para muitos, almejar um mandato está mais possível de alcançar do que passar num concurso de nível médio, onde se exigem conhecimentos básicos e idoneidade moral. Eu diria que o nível médio é muito mais difícil.

Fico pensando que cidades maravilhosas teríamos se homens de bem de nossa sociedade tivessem a audácia de se candidatar, ou seja, tivessem a audácia desses caras de pau!

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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