28 de março de 2024
Editorial

“É mentira, Terta?”

Um dos inúmeros personagens do saudoso e incomparável Chico Anysio, continua fazendo história. Seu bordão “É mentira, Terta?” continua em voga até os dias de hoje. Isso mesmo, o mentiroso Pantaleão sempre pedia à mulher – Terta – que confirmasse a sua história absurda e mentirosa, e ela sempre respondia, com uma cara arrependida: “Verrrdade”! Sim, com o “r” carregado mesmo.

Imagem: Google Imagens –YouTube – Reprodução

Pois aconteceu algo semelhante no Brazil Forum UK, em Oxford, na Inglaterra enquanto o ministro Barroso falava sobre as urnas eletrônicas e o sistema de votação no Brasil. Ele disse que “… no Brasil, algumas pessoas queriam a volta ao voto impresso com contagem pública…”.

Com a devida vênia, Excelência, nunca foi isso o que se pediu e o que ainda queremos.

Por conta disso, duas pessoas, que assistiam à palestra, o interpelaram, ao vivo, por não concordarem com aquela afirmação. E elas estavam cobertas de razão. Nunca se pediu a volta do voto em cédula. O que se pedia, e ainda se pede, era que o voto eletrônico auditado fosse impresso internamente na urna, possibilitando uma recontagem manual.

Imagem: Google Imagens – YouTube (reprodução)

Para quem ainda não viu, e o “consorcio da mídia”, obviamente, não divulgou, segue o vídeo, disponível no YouTube:

A fala do ministro Barroso na palestra é uma mentira “pantaleônica”. Ninguém nunca defendeu a volta ao voto em cédula com contagem pública. Isso é o que ele (TSE) quer que pensemos. Mas… “É mentira, Terta”?

Basta lembrar que o próprio ministro Barroso foi ao Congresso fazer lobby para que a PEC 135/2019, de autoria da Deputada Bia Kicis (PL-DF) não fosse aprovada, “ameaçando ostensivamente”, com sua presença, os membros de nosso parlamento.

Sabemos que mais de 70% dos nossos congressistas têm processos contra si no STF. Daí, com um ministro do STF – Presidente do TSE à época – comparecendo ao vivo para fazer lobby contrário à PEC, alguém acha que algum deles votaria contra a pretensão do STF/TSE?

O Presidente da República questionou a sua eleição em 2018, desde o primeiro turno, contrariando as inúmeras – e inúteis, como comprovado – pesquisas dos institutos. Ele acha que ganharia já no primeiro turno, o que não ocorreu.

Os questionamentos quanto à lisura da apuração eletrônica sempre ocorreram, sem que tivéssemos uma possibilidade de recontagem, ou seja:

Por que somos obrigados a aceitar os BUs (boletins de urnas) impressos em cada seção após o final das eleições como verdadeiros e isentos, se não podemos questioná-los ou até mesmo conferi-los por uma possível recontagem manual? É só isso que pedimos!

Afinal, quem garante ao eleitor que o seu voto foi contabilizado para o candidato que ele queria? Apenas a tela de confirmação? O que foi contabilizado realmente? A quem foi atribuído aquele voto. Isso é impossível no atual sistema. Com a impressão do voto e a confirmação do eleitor, isto seria facilmente comprovado, não?

Sim, sabemos de toda a segurança de TI – “x” camadas de segurança, criptografias, sem conexão à internet, etc… – que gira em torno das urnas e da apuração, mas por que não acrescentar uma possível comprovação de que esta apuração é absolutamente verídica?

A seguir vou esclarecer o que estamos pedindo e que vamos continuar insistindo a despeito do que pensa o STF ou o TSE.

Queremos o VOTO ELETRÔNICO AUDITADO. Ele é uma evolução do voto eletrônico atual, pois usa todas as suas vantagens e, ainda permite uma possível recontagem manual, aberta e pública, pois cada urna teria uma impressora INTERNA que registraria e armazenaria cada voto, pedindo a confirmação do eleitor, sem, no entanto, identificá-lo. Vejam a imagem a seguir.

Foto: Google Imagens – Senado Federal (reprodução)

Neste caso, o eleitor continuaria a receber seu comprovante de votação, ou seja, ele comprova que “votou”, mas não “em quem votou” da mesma forma como é feito hoje.

Não consigo entender o porquê de o TSE – que deveria ser o primeiro a querer uma eleição absolutamente segura – ser contra este tipo de segurança. Não creio ter sido pelo valor a ser gasto, cerca de 2,5 bilhões, valor que caberia perfeitamente no enorme e inchado orçamento já proposto para o TSE em 2022, ano de eleições quase “gerais”. Ele se diluiria nos próximos anos, com um orçamento muito menor.

Só consigo atribuir esta preferência à possibilidade de manipulação do sistema atual. Não pelo TSE, obviamente, mas por alguém interessado nisso… isso fica no ar. A quem interessaria?

Sem acusações, mas analisem comigo: se cada urna tiver os votos impressos internamente e mostrados ao eleitor para que ele dê o OK, qual a chance de estes votos serem fraudados na apuração? ZERO, pois o próprio eleitor daria o ok em seu voto e teria a certeza de que seu voto está lá computado para o candidato que ele deseja, impresso e apto a ser conferido manualmente se necessário,

Tivemos, na última eleição municipal, uma prova da fragilidade, já que houve uma suposta “invasão de hackers” nos computadores do TSE, estes sim conectados à internet. Isso segundo a explicação oficial, foi “… apenas um bug (erro) no programa que faria a totalização, mas que não houve qualquer problema na apuração“.

Será que não? Será que divulgariam uma invasão? Óbvio que não!

Atrasou a totalização em quase duas horas e as explicações não convenceram ninguém. Como não poderia haver recontagem manual, tivemos que engolir os totais apresentados.

Se estes votos estivessem impressos internamente nas urnas, qualquer partido e/ou candidato que tivesse dúvida e solicitasse, uma recontagem poderia ser feita e isso seria providenciado pelo próprio pessoal do TRE/TSE, à frente dos fiscais dos partidos interessados, usando os votos internamente impressos pelas urnas respectivas, sem qualquer dúvida nem identificação dos eleitores. Simples assim.

Como profissional de TI, durante toda minha vida profissional, não posso deixar de admitir esta possibilidade. Desculpem-me os técnicos e funcionários do TRE/TSE, mas esta hipótese É POSSÍVEL, muito embora eu não tenha a devida qualificação em segurança de TI para isso e nenhuma vontade de interferir no processo eleitoral desta forma! Interfiro somente com meu voto!

E, se é possível e o custo não seria absurdo, considerando-se o enorme orçamento do TSE, de novo, por que não permitir uma forma que admita uma auditagem e recontagem dos votos inibindo a possibilidade de fraude, ou erro?

Esta é a questão: por que não?

No mundo inteiro existe a possibilidade de recontagem. Sim, mas o mundo inteiro não usa votação e apuração eletrônicas como aqui. Usam papel, mas por que preferem este método arcaico?

Antes de responder o óbvio, falei com um amigo que mora atualmente na Inglaterra e que já morou na Itália e na França e ele diz a mesma coisa sobre a votação nestes países: optam por papel por ser mais barato e garantir auditagem e recontagem… simples assim. De novo, não é o nosso caso: NÃO QUEREMOS A VOLTA DO VOTO EM PAPEL!!! Isso seria um retrocesso, e não queremos isso! Queremos evolução!

Só consigo inferir esta opção brasileira por uma decisão de não permitir a recontagem, por “outros interesses”. E que outros interesses poderiam ser estes?

Obviamente, interesses políticos, já que os que são ou foram beneficiados pela impossibilidade da recontagem, de forma alguma quererão mudar a forma de votação ou de apuração.

Não havendo motivos pelos valores a serem gastos e, aumentando a qualidade e a segurança do método de votação, por que o TSE e os 11 partidos contrários (a única coisa que uniu partidos de direita e de esquerda para a votação, estranho, não?) não admitiram sequer a hipótese desta forma de votação?

O TSE alega que o sistema é seguro. Sim, pode ser, mas por que não torná-lo MAIS SEGURO? “MAIS”: Esta é a palavra-chave!!!

O custo vai se diluir nos anos que teremos à frente e na garantia da lisura do processo e, teremos a certeza de que nossos votos foram realmente computados para quem nós votamos e ainda possibilitando uma recontagem manual.

Para terminar, vale lembrar ao ministro que não temos uma Terta para confirmar suas mentiras, daí vale o bordão:

“É mentira, Terta”?

Segue um vídeo do espetacular personagem de Chico Anysio, em várias apresentações, para nos divertir um pouco.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

4 Comentários

  • Nelly Batista 22 de julho de 2022

    Valter, é exatamente isso que a maioria quer: uma confirmação do voto. Há um grande interesse de “alguns” e por isso insistem que as urnas são “seguras”. Nós sabemos que não são. E o povo merece ter uma eleição limpa. É necessária a impressão de cada voto para conferência, em caso de auditoria. É o correto.

    • Administrador 22 de julho de 2022

      Obrigado pelo comentário… até posso aceitar, de certa forma, que elas sejam “seguras”, mas por que a resistência em torná-las “mais seguras”? . Como vc bem disse, aí tem!!!
      Valter

  • Rute Abreu de Oliveira Silveira 6 de agosto de 2022

    Valtinho, só aos poucos eu estou conseguindo colocar as minhas leituras em dia.
    Colônia de Férias da Vovó Rute fechada, por hora, sobra tempo para ler, rsrsr.
    Compartilhei no Facebook, só espero que não me censurem.
    Você disse o que queríamos ter dito. Só queremos transparência.
    Simples assim.
    Rute

    • Administrador 7 de agosto de 2022

      Acho que tenho “carta branca” do Face. Até hoje, nunca “censuraram” qq publicação minha… rs

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