16 de setembro de 2024
Vinhos

Barricas e tonéis

“Este vinho passou por madeira?”, talvez seja uma das perguntas mais comuns entre enófilos, sejam iniciantes ou experimentados. O que poucos sabem é o que está por trás de uma resposta positiva.

A madeira e o vinho têm uma relação muito antiga. Uma de suas primeiras aplicações foi no transporte dos vinhos. As frágeis ânforas, onde eram fermentados, não se prestavam a isto.

Com o passar do tempo, perceberam que também era possível elaborar vinhos em grandes cubas de madeira, abandonando, gradativamente, o uso de recipiente de cerâmica. Estes tonéis eram de qualquer madeira.

A influência do tipo de madeira no paladar final do vinho só começou a ser aplicada na produção a partir dos anos 1700 em diante. O Carvalho, particularmente, se tornou a matéria prima preferida dos vinhateiros, mas não a única.

A Tanoaria, como é conhecida a arte de produzir estas barricas, se desenvolve e não só novos formatos são criados, como surgem técnicas de tosta, que aumentam a influência da madeira nas características do vinho.

Atualmente este leque de opções está bem dominado: as madeiras; os formatos e as tostas. Cada uma vai impactar um vinho de diferentes formas.

Quando aprendemos que “sim, este vinho passou por madeira”, provavelmente significa que o vinho foi amadurecido nas famosas barricas de 225 litros, feitas com carvalho francês ou americano.

Parece simples, mas não é. Apesar das barricas de 225 litros serem as mais comuns, não estão sozinhas neste mercado. Há quem prefira as de 300 ou 350 litros. Os tanoeiros, ainda oferecem outras capacidades que podem chegar até 600 litros.

Cada um destes tamanhos vai desempenhar um papel na vida do vinho, que pode passar desde a fermentação até o amadurecimento.

Mas não paramos por aí. Acima destas capacidades citadas, o nome muda para “toneis”, ou “foudres” como preferem os perfeccionistas. Estamos falando de capacidades que vão de 1000 litros até 10.000 litros ou mais. A única diferença é a mobilidade destes contenedores. Enquanto as barricas ainda podem ser movimentadas dentro da cantina, os foudres são fixos, ocupando um espaço reservado para eles.

Ao final, um vinhateiro tem ao seu dispor uma grande gama de opções que podem modificar substancialmente o resultado do seu vinho, quando “passa por madeira”.

O Carvalho, pode ter outras origens além dos conhecidos franceses e americanos. Hoje temos boa madeira vinda da Hungria, Croácia e Península Ibérica. Vinhos brancos se beneficiam de barricas de acácia. Alguns tintos, classificados como exóticos, envelhecem com muita dignidade em barricas de cerejeira. Até mesmo o nosso velho e conhecido pinho é que dá vida aos típicos Retsina, gregos.

Com relação aos tamanhos, a equação é muito simples: quanto menor o envase, maior a influência da madeira ao final. Os grandes toneis ou dornas agregam notas mais sutis e o tempo de armazenamento é sempre maior.

O sucesso das pequenas barricas é uma boa tradução do famoso “time is money”.

Seja qual for o tipo de barrica ou tonel empregado, saibam que não é barato. Uma de 225 litros de boa procedência custa em torno de US$ 600.00 e pode ser utilizada, na vinificação, por 2 ou 3 vezes, no máximo. A cada reúso, sua influência diminui. Já os foudres são mais longevos podendo ter sua vida útil esticada, através de limpezas e raspagens.

Pensem nisto tudo na próxima vez que perguntarem se o vinho passou por madeira.

Saúde e bons vinhos!

Dica da Karina – Cave Nacional

Alto do Gavião – Touriga Nacional 2023

Vinícola localizada na Zona da Mata, Minas Gerais, está apenas na sua segunda safra. Produzido pelo método de poda invertida (onde as uvas são colhidas no inverno, o clima é seco e a amplitude térmica, grande), este vinho possui cor rubi escuro brilhante e aroma fresco, intenso e elegante, revelando extraordinária complexidade. Intensas notas de frutas vermelhas maduras, em equilíbrio com a acidez e teor alcoólico. Passagem de 2 meses em barrica de carvalho francês de média tosta de 1o uso. Não filtrado.

Tuty

Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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