28 de março de 2024
Colunistas Sylvia Belinky

O impacto da chegada de um filho com síndrome de Down

Comecei a fazer psicologia com 45 anos de vida e 25 de terapia, o que me colocava em posição privilegiada em relação à maioria dos “professores”, donos da verdade, que tive na FMU, para onde fui, imaginando que sairia melhor do que entrei, com mais conhecimentos.

Essa experiência se revelou menos lúcida do que poderia ter sido; um sonho de vida que não durou os cinco anos devidos, mas, apenas e tão somente, dois; tempo suficiente para eu perceber que a maioria dos professores era tão limitada que pouco ou nada tinha a contribuir com meu saber da época…

De qualquer forma, como diz o poeta, “tudo vale a pena se a alma não é pequena” e a minha nunca foi, por sorte. Tirei o melhor proveito dessa experiência que compartilhei com colegas bem mais novos, que hoje vejo que se tornaram pessoas muito especiais!

Com alguns desses colegas, tive a oportunidade de fazer um trabalho que funcionou como um soco no estômago. O nome do trabalho e seu tema: “A transformação numa família com o advento de um filho com Síndrome de Down”.

Esse fato me veio à memória por conta de uma reportagem, que li a respeito, do autor de um livro para crianças, Joca e Dado, uma amizade diferente, de Henri Zylberstajn e a chegada de seu terceiro filho – justamente com Síndrome de Down!

Claramente, esse fato foi completamente inesperado em sua vida e ele diz que, por conta do choque, tirou um ano sabático para ler e estudar muito, e descobrir “por que aquilo aconteceu exatamente com ele”.

E ele coloca que nunca olhou para crianças com esse problema com preconceito; bem-nascido, de família diferenciada e “esclarecida”, coloca, também sabiamente, que não foi educado para conviver “com esse tipo de diferença”.

E eu colocaria: quem de nós foi? Pelo que pude ver e aprender, praticamente ninguém! Esse pensamento, “porque isso foi acontecer justamente comigo” coloca bem a dificuldade que representa aceitar essa situação!

À exceção de algumas famílias muito religiosas que visitamos sua fé as preparou para uma mais fácil aceitação, todas as outras aprenderam a duras penas que essa convivência não necessariamente representava um ônus, que, por vezes, se transformou num bônus.

Sem querer entrar em detalhes, achei fantástica a colocação deste autor com relação ao que estava vivendo: “Jurei para mim mesmo que ninguém nunca ia olhar para meu filho ou para outras crianças com Síndrome de Down da mesma forma que eu olhava para essas pessoas antes de ter o Pedro”.

Não por nada, seu livro teve uma tiragem inicial de 45 mil exemplares, quando um livro para crianças não costuma passar das 5.000 cópias…

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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