29 de março de 2024
Colunistas Sylvia Belinky

Falando sozinha


Eu falo sozinha. É verdade: falo sozinha mesmo. Isso, no século passado (escrito assim parece uma eternidade, mas passa rapidinho) era considerado coisa de biruta, de gente que tinha macaquinhos no sótão…
Se você não se lembrar que falar sozinho era coisa de biruta, tampouco vai se lembrar dessa expressão, “macaquinhos no sótão”…
De uns tempos para cá, temos um vilão da vez; o que é difícil de comprovar, passa a causar dúvidas e, em sendo assim acaba, como os ovos ou a manteiga ou as vitaminas, sendo reabilitados.
Assim, os ovos poderiam ser mortais de fossem comidos mais do que dois na semana, em especial, por aqueles que tinham colesterol alto.
Como eu não tive e nem tenho problemas com o colesterol e adoro ovo, sempre comi sem preocupação de contar se era o segundo, o quarto ou… o sétimo! É, o sétimo: poderia ser o sétimo, por que sempre como dois de uma vez e já sendo o final da semana, um sábado… Mas, felizmente para os médicos, eles foram (os ovos, não os médicos) foram reabilitados!
Quando eu disse lá em cima que “eu falo sozinha”, não estava me referindo a este novo século (ou década, como querem alguns chatos que decidiram discutir se a década começa em 2020 ou apenas em 2021: cá pra nós, cultura inútil, perguntinha de vestibular de múltipla escolha:
A década se inicia em:
1) o ano 2020;
2) só no ano de 2021;
3) NRA: Nenhuma das anteriores
Como eu dizia, a vida foi enormemente facilitada com o advento do fone de ouvido, especificamente para celulares, aquele que, de modo geral, se coloca apenas em uma orelha, aquela na qual você julgue ouvir melhor. Na verdade, mal você sabe que se fizesse um teste de audiometria ia descobrir que não ouve bem de nenhuma das duas, o que, nos dias de hoje, é uma constante e, por vezes, uma bênção.
Você já terá vivido a experiência de vir alguém em sua direção, falando, falando e dando a impressão de estar olhando diretamente em seus olhos e você, nunca tendo visto a criatura, fica entre encarar ou sair correndo: “O que será que esse louco quer comigo? Está me estranhando, cara?”
Você já notou como as pessoas hoje falam alto, em especial ao celular? E se estiverem no ônibus, então? Quer queira, quer não, você fica enfronhado na vida dos circunstantes – eventualmente, talvez fique menos triste ao descobrir que todos têm problemas, quase iguais aos seus…
O fato é que atualmente ninguém tem certeza de quem fala sozinho de verdade, sabe como?
Você pergunta, você mesmo responde, põe em dúvida a resposta, se xinga, discute, acha que você está ficando maluco e aí…
não tem galho, tudo o que você precisa fazer é disfarçar com um fone de ouvido que não vai servir pra nada, a não ser para que ninguém descubra que você é mesmo tan tan, birutinha, que fala sozinho deveras…
E eu descubro um novo estudo – nem tão novo assim – diz que pessoas que falam sozinhas são emocionalmente mais saudáveis: viu só?!

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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