Hoje, eu ouvia distraída, uma entrevista em que uma psicóloga dizia que toda experiência da criança carrega um componente sexual desde que ela nasce, e ia explicando: o contato com o cheiro da mãe, com o peito, o calor do corpo da mãe… E fiquei imaginando nossa ministra Damares, tão moderna, ouvindo a colocação, que não era absurda…
Não demorou muito e me lembrei de uma, das muitas saias justas por que passei com meu filho e seus pedidos de explicação; não faço e nunca fiz o tipo pudico e acho que o melhor é responder sem enrolar muito pois, em geral, eles querem saber menos do que imaginamos. Ainda que isso não se aplique a meu filho, que sempre quis todas as explicações beeeeem detalhadas – e conheço bem pouca gente capaz de se sair bem de um aperto como esse que passo a descrever:
Quando meu filho tinha por volta de 8 anos, fui buscá-lo na aula de judô, que era no clube que frequentávamos.
Ao sair da sala, eu ia carregada com suas roupas de escola, sua pasta de trabalhos, mais minha bolsa e íamos em direção ao estacionamento quando ele se abaixa e pega algo no chão e me diz, alto: “Mãe, olha só o que eu achei! E aqui diz: camisinha… Claro que não pode ser, né mãe, uma camisinha nesse envelopinho?”
E eu, pega de surpresa, olho e vejo uma embalagem de camisinha na mão dele, bem como todos os olhares voltados para mim: um bando de gente saindo com os filhos, os manobristas, etc. Definida a não me “apertar”, digo pra ele: “Não filhote, essa é uma camisinha, mas não uma camisa pequena” E ele insiste: “Então é o quê?” E eu: “No carro a mamãe te explica.” ANTI-CLÍMAX – já que todos estavam prelibando tremenda diversão às minhas custas…
Ele não insistiu mais. Colocou entre meus dedos a embalagem fechada enquanto eu pegava o cartão do estacionamento. Ao chegar com o carro, digo ao manobrista: “Aqui está o cartão”; ele olha e vê também a embalagem entre meus dedos e eu, mais que depressa: “Não, a camisinha é do meu filho!” Quando vi o olhar incrédulo do manobrista olhando para meu filho, me dei conta do que eu havia dito. Tratei de jogar toda a tralha dentro do carro, entreguei o cartão, e desisti de explicar o inexplicável…
Já no conforto do carro, a caminho de casa, vem o pedido de explicação para o conteúdo da embalagem. Explico: quando as pessoas mais velhas transam (estranhamente parti do pressuposto de que ele, aos 8 anos, soubesse do que se tratava) o homem usa essa coisa que se chama camisinha para não ter filhinhos.
Nessa altura ele já tinha tirado a camisinha do invólucro, vira pra mim e diz:
– Cheirosinha, né, mãe? E eu: é, quando a gente vai transar tem que estar cheiroso!
– Mas mãe, ela fica grande! Olho pelo espelho retrovisor e vejo que ele tinha abaixado as calças e tentava colocar a camisinha!
-É claro, Fe, quando você crescer, aí vai caber!
– Mas mãe, e essa parte fininha, da ponta?
– É aí que vão ficar as sementinhas que fazem filhinhos…
Contando que o questionário já tivesse terminado, me achando mestre em educação sexual, eis que aí vem:
– Ah! Mãe, então quer dizer que cabe no papai?!
E lá se foi ele, com ela em punho, buscar o pai e nem tive tempo de prevenir:
– Pai, põe pra eu ver como fica?!
E o pai, sem perder o rebolado:
– Ah, Fe, essa não! Está toda suja, babada…
E, então, ele sai todo feliz, soprando o “novo balão”…
Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a “falarem a mesma língua”, traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma… Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar… De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena – só não tenho a menor contemplação com a burrice!