28 de março de 2024
Colunistas Sylvia Belinky

Aulas de sexo


Hoje, eu ouvia distraída, uma entrevista em que uma psicóloga dizia que toda experiência da criança carrega um componente sexual desde que ela nasce, e ia explicando: o contato com o cheiro da mãe, com o peito, o calor do corpo da mãe… E fiquei imaginando nossa ministra Damares, tão moderna, ouvindo a colocação, que não era absurda…
Não demorou muito e me lembrei de uma, das muitas saias justas por que passei com meu filho e seus pedidos de explicação; não faço e nunca fiz o tipo pudico e acho que o melhor é responder sem enrolar muito pois, em geral, eles querem saber menos do que imaginamos. Ainda que isso não se aplique a meu filho, que sempre quis todas as explicações beeeeem detalhadas – e conheço bem pouca gente capaz de se sair bem de um aperto como esse que passo a descrever:
Quando meu filho tinha por volta de 8 anos, fui buscá-lo na aula de judô, que era no clube que frequentávamos.
Ao sair da sala, eu ia carregada com suas roupas de escola, sua pasta de trabalhos, mais minha bolsa e íamos em direção ao estacionamento quando ele se abaixa e pega algo no chão e me diz, alto: “Mãe, olha só o que eu achei! E aqui diz: camisinha… Claro que não pode ser, né mãe, uma camisinha nesse envelopinho?”
E eu, pega de surpresa, olho e vejo uma embalagem de camisinha na mão dele, bem como todos os olhares voltados para mim: um bando de gente saindo com os filhos, os manobristas, etc. Definida a não me “apertar”, digo pra ele: “Não filhote, essa é uma camisinha, mas não uma camisa pequena” E ele insiste: “Então é o quê?” E eu: “No  carro a mamãe te explica.” ANTI-CLÍMAX – já que todos estavam prelibando tremenda diversão às minhas custas…
Ele não insistiu mais. Colocou entre meus dedos a embalagem fechada enquanto eu pegava o cartão do estacionamento. Ao chegar com o carro, digo ao manobrista: “Aqui está o cartão”; ele olha e vê também a embalagem entre meus dedos e eu, mais que depressa: “Não, a camisinha é do meu filho!” Quando vi o olhar incrédulo do manobrista olhando para meu filho, me dei conta do que eu havia dito. Tratei de jogar toda a tralha dentro do carro, entreguei o cartão, e desisti de explicar o inexplicável…
Já no conforto do carro, a caminho de casa, vem o pedido de explicação para o conteúdo da embalagem. Explico: quando as pessoas mais velhas transam (estranhamente parti do pressuposto de que ele, aos 8 anos, soubesse do que se tratava)  o homem usa essa coisa que se chama camisinha para não ter filhinhos.
Nessa altura ele já tinha tirado a camisinha do invólucro, vira pra mim e diz:
– Cheirosinha, né, mãe? E eu: é, quando a gente vai transar tem que estar cheiroso!
– Mas mãe, ela fica grande! Olho pelo espelho retrovisor e vejo que ele tinha abaixado as calças e tentava colocar a camisinha!
-É claro, Fe, quando você crescer, aí vai caber!
– Mas mãe, e essa parte fininha, da ponta?
– É aí que vão ficar as sementinhas que fazem filhinhos…
Contando que o questionário já tivesse terminado, me achando mestre em educação sexual, eis que aí vem:
– Ah! Mãe, então quer dizer que cabe no papai?!
E lá se foi ele, com ela em punho, buscar o pai e nem tive tempo de prevenir:
– Pai, põe pra eu ver como fica?!
E o pai, sem perder o rebolado:
– Ah, Fe, essa não! Está toda suja, babada…
E, então, ele sai todo feliz, soprando o “novo balão”…

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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