18 de abril de 2024
Colunistas Priscila Chapaval

Eu e meu pai, uma viagem…

Meu pai começou a ter alguns sintomas que aparentava ser do coração. Ele sempre foi um atleta, e ia todos os dias ao parque do Ibirapuera correr e ler o seu jornal, o Estado de São Paulo.

Passava umas horas, revia amigos, e sempre trazia uma lírio do parque – para minha mãe – e colocava dentro do jornal para ninguém ver. Um moleque quase aos 80 anos e um marido apaixonado pela sua mulher.

Acabou operando o coração para colocar uma válvula e nessa época a cirurgia era de peito aberto e bastante chatinha. Só que teve um derrame durante a cirurgia e ficou com uma vida quase vegetativa durante um ano.

A casa onde moravam virou um hospital. Cama cirúrgica, cadeira de rodas e home care o tempo todo. Fomos juntos – meu pai, minha mãe e eu – no dia da internação, com o jornal Estadão de domingo e a Veja debaixo do braço.

Saímos do hospital depois de 2 meses de internação e UTI, de ambulância e papi totalmente fora do que era. Foi um baque. Minha mãe completamente triste e preocupada teve um problema na coluna e teve que operar.

Eu quase não tinha forças para tanta tristeza.

E ele acabou falecendo em casa. É uma cena que nunca vou esquecer.

Fiquei muito arrasada. Nunca podia imaginar que um simples procedimento causaria tanto dano.

Resolvi ir para Recife na casa de amigos. Mas ao invés de ir para Recife, fui convidada por eles para ir para Paris.

E fui. Nos primeiros dias chorava nos cafés de Saint Germain, e os garçons perguntavam se eu estava precisando de ajuda. Ai eu chorava mais ainda.

Nesse meio tempo, fui convidada para ir para Génève, na casa de um amigo nosso.

E fui. Eram pessoas muito legais e sabiam que viajando eu iria aos poucos melhorar.

Comprei uma passagem de trem – TGV – primeira classe Paris/Génève. Eu merecia!

Notei que na plataforma tinha um grupo grande de japoneses que embarcariam no mesmo vagão que eu. Havia um guia da excursão que levava o catering, caixas individuais com comida japonesa. Eu era a única pessoa ocidental e que não havia recebido a caixa de sushis e sashimis. Hummmm…que delícia, pensei. Bem que poderia estar nessa excursão…

E o trem começou a disparar nos trilhos e mal dava para observar a paisagem linda do lado de fora. Depois de algum tempo comecei a sentir um cheiro estranho. Cheiro de pum. Gente!!! Que aflição! Não dava para abrir a janela lacrada e muito menos mudar de lugar. Achei, por muita sorte, uma poltrona vazia na última fileira. Mas não adiantou nada. O cheiro do pum era maior ainda lá atrás.

Pensei… o que vou fazer agora?

Já sei, vou no vagão bar e ver o que acontece. Não deu outra. Foi lá mesmo que eu fiquei. De pé e mal podendo ver o cenário pela janelas.

Conforme fomos chegando em Génève voltei para o meu lugar.

Ou seja o TGV vai voando pelos trilhos mas chega logo. Isso é bom.

Mas se tiver algum passageiro com gases, você se ferra.

Sou ainda fiel aos trens mais tradicionais.

E viva a Suíça. Foram dias lindos e muito bons, com carinho de amigos e viagens por dentro desse lindo país.

Voltei para o Brasil depois de vários dias, chegando no dia da cerimônia do túmulo do meu pai.

“Quem vive no coração daqueles que lhe são caros, não morreu, apenas está longe.”

Beijos papi. Você apenas está longe!

Priscila Chapaval

Jornalista... amo publicar colunas sobre meu dia a dia...

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