A morte da sra. Marisa Letícia Lula da Silva expôs o lodo escondido na alma de milhões de brasileiros. Acho que nunca assisti espetáculo tão triste, tão grotesco. Se é com este tipo de gente que pretendemos que o Brasil dê certo, podemos desistir. Pessoas tão rudes jamais conseguirão construir algo positivo.
Ninguém desconhece o meu horror ao PT e ao Lula. Mas sou antiga, acredito que a morte e a dor alheia devem ser respeitadas. Para mim o momento era, ao menos, para o discreto silêncio. Não foi o que se viu. As redes sociais viraram uma arena de cães ganindo a desgraça do próximo e desejando o pior, o muito pior.
Começando pelos que dividem comigo o mesmo pensamento político. Houve quem conseguisse se alegrar diante do falecimento de uma mãe e avó, mulher que, não importa o seu perfil político, cuidava de um família, amava-a. Alguns a julgaram, emitindo juízos de valor rastejantes, como se fossem Deus. Outros riram e debocharam. Senti muita vergonha alheia, muita tristeza com a mediocridade desses corações.
Do lado dos petistas, a miséria moral não foi menor. O viúvo aproveitou o enterro para fazer proselitismo político, o povo que fora prestar homenagens gritou palavras de ordem, um padre maluco fez propaganda partidária. Gritaria, confusão, oba-oba delirante capitaneado por quem devia ser o primeiro a exigir respeito à falecida. Somos um povinho rasteiro, não temos cacife nem para inventar uma neo Evita Peron, a utópica mãe dos descamisados. Por culpa do marido choroso, a nossa foi cremada junto ao corpo de Marisa Leticia. O blablablá santificador estrebuchou no nascedouro.
Nem sei como definir o ódio de simpatizantes da família enlutada, pedindo publicamente o assassinato de Sergio Moro – como se alguém tivesse culpa de um aneurisma diagnosticado há dez anos, que a Marisa não quis operar -, clamando por vingança dos culpados, qualquer culpado. Até os médicos idiotas que se referiram ao caso de maneira desrespeitosa. Perderam o emprego, estão na rua da amargura, mas o pessoal achou pouco. Desejava o CRM cassado, desejava um pelotão de fuzilamento, todos executados no garrote vil.
Triste, vergonhoso, humilhante, ultrajante. Eu, a não-petista, declaro: dona Marisa Leticia não merecia o show ordinário que armaram em seu velório. Não merece os seguidores sanguinários, que só transmitem ódio. Não merece os inimigos rasteiros, incapazes de manter uma digna distância de acontecimento tão triste.
Ainda bem que o Donald Trump foi eleito.
O mundo está precisando mesmo acabar.