Praga é uma das cidades mais lindas e sedutoras do mundo. Ela ficou “escondida” de nós, turistas ocidentais, durante décadas no tempo da Cortina de Ferro.
Para os jovens que desconhecem essa expressão, o termo Cortina de Ferro designava a divisão, a princípio ideológica e depois física, entre os países europeus (do leste) sob a influência da União Soviética dos demais países europeus capitalistas (do oeste), após a Segunda Guerra Mundial.
A Cortina de Ferro acabou com a queda do Muro de Berlim. E assim cidades como Praga puderam e podem ser plenamente apreciadas.
Há muito o que ver e visitar em Praga: a Praça Antiga, o Relógio Astronômico, a Ponte Carlos, o Castelo, a Catedral de São Vito, para citar os principais.
Entretanto, às vezes, alguns atrativos escapam do nosso radar.
Um deles é o Bairro Judeu, que se chama Josefov. Localizado logo ao lado da praça principal da cidade antiga, é um bairro muito agradável onde estão a rua mais elegante de Praga com seus lindos prédios, as seis sinagogas históricas e o antigo cemitério judeu, de grande importância.
É claro que há mais o que ver no Bairro Judeu, mas vou enumerar o que acho mais significativo.
1) Rua Paris (Pařížská):
Pařížská é a mais elegante rua de Praga. Lá estão lojas de marcas muito exclusivas e sofisticadas. Mas não é isso que me atrai nela, e sim a arquitetura de seus prédios e a beleza de ser uma rua muito arborizada.
No final do século XIX o Bairro Judeu foi reformado pelas autoridades locais, que só preservaram as sinagogas, o antigo cemitério e a prefeitura.
As ruas pequenas e tortuosas da Idade Média foram substituídas por ruas mais largas e lineares. Assim nasceu a Rua Paris, com suas construções em estilo art-nouveau e art-decô.
2) Sinagoga Espanhola (Španělská synagoga):
É uma das mais lindas sinagogas de Praga. Foi construída na segunda metade do século XIX em estilo mouro espanhol, no lugar do que acredita-se ter sido a mais antiga sinagoga da cidade, do século XII.
O nome da sinagoga é uma referência aos judeus espanhóis expulsos da Espanha no século XV pela Rainha Isabel, a Católica. Eles conseguiram abrigo lá. Hoje a sinagoga possui exposição permanente sobre a história dos judeus da República Tcheca.
Há uma outra versão para o nome da sinagoga: o estilo da arquitetura moura espanhola. Aliás, ao entrarmos na sinagoga é quase inevitável nos lembrarmos do Palácio de Alhambra, em Granada.
2) Sinagoga Velha-Nova (Nuova Staronová synagoga):
É a mais antiga sinagoga da Europa Central, construída em estilo gótico no século XIII. É hoje a mais importante sinagoga da comunidade judaica de Praga, local onde a comunidade se reúne.
3) Sinagoga Pinkas (Pinkasova synagoga):
Foi construída em 1535 pela família Horowitz, uma das mais respeitadas de Praga, como um local de oração privado.
Após a Segunda Guerra Mundial foi convertida num memorial em homenagem aos judeus tchecos vítimas do holocausto.
As paredes internas da sinagoga são recobertas com os nomes dos mortos pelo nazismo, escritos à mão por dois artistas locais. São cerca de 80 mil nomes, com a data do nascimento e a data da última informação sobre a pessoa. Até porque a maioria foi para campos de concentração, e não se sabia a data certa morte.
Achei interessante que, com os nomes nas paredes, a gente passa a ter uma noção muito mais “palpável” das milhares de mortes. Sem contar que os judeus que iam para os campos de concentração tinham só um número, e agora têm seus nomes de volta.
A Sinagoga Pinkas está localizada ao lado do Antigo Cemitério Judeu.
4) Antigo Cemitério Judeu (Starý židovský hřbitov):
O Velho Cemitério Judeu surgiu no século XV e foi utilizado até 1787, quando o Imperador José II proibiu cemitérios dentro da cidade.
Os judeus se estabeleceram em Praga a partir do século X. Após perseguições que aconteceram ao longo do tempo, eles se reuniram em um único bairro, que também seria o único lugar onde deveriam ser enterrados. E assim aconteceu por cerca de 300 anos.
Hoje há mais de 12 mil lápides à vista no Velho Cemitério, mas é possível que haja mais de 100 mil corpos enterrados. O motivo é que, na falta de espaço, as lápides existentes eram removidas e camadas de terra eram acrescentadas para os novos corpos serem sepultados.
Tentando ser mais clara: corpos eram sepultados uns sobre os outros, com camadas de terra entre eles. Esse é o motivo de vermos tantas lápides bem juntas, algumas vezes quase amontoadas. Mas muitas lápides devem estar enterradas à medida que as camadas de terra foram acrescentadas. Diz-se que há mais de dez camadas de terra no cemitério.
O fim desse processo aconteceu quando José II libertou os judeus desse bairro, que até então tinha um muro ao seu redor. O muro foi derrubado e a região passou a ser um bairro da cidade, como os outros. Foi chamado de Josefov, em homenagem ao imperador.
O Velho Cemitério é lindo e não me causou nenhuma sensação diferente de respeito e de emoção. É uma área arborizada, bem agradável. Não é uma visita longa porque o cemitério ocupa um quarteirão não muito grande, e há um único caminho a ser fazer entre as lápides para a visita. No meu caso durou 20min.
Em 1995, o Velho Cemitério Judeu foi declarado Patrimônio Cultural Nacional.
O ingresso para visitar o Cemitério Judeu dá direito a também conhecer algumas sinagogas históricas. Não é possível só entrar no cemitério e há ingressos diferentes, o visitante tem que escolher as sinagogas quer ver. Se houver fila para adquirir o ingresso no cemitério, sempre pode ser comprado numa das sinagogas, que costumam ser mais vazias.
Vale muito visitar o Bairro Judeu de Praga. Uma experiência única!
“Arquiteta de formação e de ofício por muitos anos, desde 2007 resolveu mudar de profissão. Desde então trabalha com turismo, elaborando roteiros e acompanhando pequenos grupos ao exterior. Descobriu que essa é sua vocação maior.”
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