Muita gente pensa em Cusco como o aeroporto de chegada do avião para depois visitar Machu Picchu, a 70 km de distância, indiscutivelmente a maior atração turística do Peru.
Mas Cusco é uma cidade de muitos atrativos, com grande patrimônio histórico e arquitetônico. Foi capital do Império Inca e depois conquistada pelos espanhóis, em 1532, que lá ergueram suas igrejas, edifícios públicos e residências.
Visão parcial da Plaza de Armas, com o casario colonial espanhol e a Igreja da Companhia de Jesus ao fundo.
(Fonte: Mônica Sayão)
Como era de se imaginar, os espanhóis destruíram muito a cidade ao chegarem. Mantiveram as fundações e também partes de paredes incas de pedra perfeitamente encaixadas e sem argamassa. O resto foi desmantelado pelos conquistadores e reaproveitado em sua arquitetura colonial. Mas faz sentido para os conquistadores: assim acabaram com os templos incas, e os nativos não puderam mais adorar seus deuses. Uma pena!
Cusco tem aproximadamente 300 mil habitantes e está a 3.400 m de altitude. Senti os efeitos da altitude no dia seguinte à nossa chegada à cidade. Cansaço, falta de ar e um pouco de enjoo.
Outras pessoas do nosso grupo também sentiram. Nada terrível: muito chá de coca, algumas respiradas no balão de oxigênio (sempre disponíveis nos hotéis) e uns comprimidos recomendados pelo guia peruano restauraram nossas forças. Mas o ideal é chegar à Cusco e passar o primeiro dia descansando para se aclimatar à tamanha diferença de altitude. E nada de andar depressa, isso é fundamental.
Império Inca:
Foi um grande império que floresceu nos atuais territórios do Peru, Equador, Bolívia, norte do Chile e noroeste da Argentina ao longo dos séculos XIII a XV d.C.. Os incas eram um povo conquistador, que acumulou riquezas pelos impostos cobrados de outros povos, e que vivia basicamente da agricultura.
O antropólogo Gordon McEwan escreveu que os incas foram capazes de construir ”um dos maiores Estados imperiais da história humana” sem o uso da roda, animais de tração, conhecimento do ferro ou aço ou mesmo um sistema de escrita. (Fonte: “The Incas: New Perspectives” por Gordon McEwan, 2006).
Cusco era ao centro político, militar e administrativo do império inca. E onde naturalmente morava o imperador. Atahualpa foi o último imperador inca, que morreu combatendo os espanhóis comandados por Francisco Pizzarro.
Principais atrativos:
1 – Plaza de Armas
É o coração de Cusco, onde encontra-se a catedral da Virgem de Assunção, a Igreja da Companhia de Jesus, e um conjunto de arquitetura residencial espanhola, com seus balcões no segundo andar. Há também lojas variadas, cafés e restaurantes. Todas essas construções estão no entorno de um jardim bonito e muito agradável, com bancos para momentos de contemplação ou, quem sabe, de descanso…
Final da tarde em frente à Catedral de Cusco que está localizada na Plaza de Armas, próxima a Igreja da Companhia de Jesus.
São duas igrejas muito importantes na mesma praça.
(Fonte: Mônica Sayão)
Muitos dos balcões do casario colonial da Plaza de Armas são bares ou restaurantes. Na parte térrea, há muitas lojas. (Fonte: Mônica Sayão)
Detalhe da fachada da Igreja da Companhia de Jesus. Muito harmoniosa.
(Fonte: Mônica Sayão)
Interior da Igreja da Cia. de Jesus. (Fonte: Mônica Sayão)
2 – Qorikancha / Convento de Santo Domingo
Qorikancha era o mais importante complexo de templos do império inca. O principal deles era dedicado ao Deus Sol. Quando os espanhóis chegaram, logo construíram uma igreja e convento sobre a estrutura inca que destruíram. As fundações incas foram aproveitadas, assim como algumas paredes.
Mais uma igreja, são muitas pela cidade. Essa é a Igreja do Convento de Santo Domingo construída
sobre local muito sagrado para os incas – o Templo do Sol. (Fonte: Mônica Sayão)
Claustro do Convento de Santo Domingo: lindo demais!
(Fonte: Mônica Sayão)
Detalhe do claustro. Reparem a parede baixa por trás das colunas: é uma parede inca que foi preservada.
Todo o conjunto cristão foi construído sobre alicerces incas. (Fonte: Mônica Sayão)
Pelas galerias do Convento de Santo Domingo. (Fonte: Mônica Sayão)
O conjunto da igreja e convento de São Domingos é sensacional! Principalmente o claustro do convento, que é maravilhoso. É uma visita imperdível e em alguns lugares podemos observar partes de paredes incas originais.
3 – Flanar pela cidade
Conhecer o Bairro San Blas, que é um dos mais charmosos de Cusco, é um programa muito simpático. É um bairro de ruas estreitas, ladeiras e escadas, ladeadas por casarões coloniais sobre alicerces incas. Dá para ver o encontro da parede inca com a espanhola, muito interessante!
Muitas ladeiras no Bairro de San Blass. Aqui fica bem evidente a meia parede inca
aproveitada pelos espanhóis em suas construções.
(Fonte: www.theonlyperuguide.com)
As ruas de San Blas têm pavimentação de pedra.
Em algumas delas houve a necessidade de se fazer escadas laterais.
(Fonte: en.wikipedia.org)
É nesse bairro que estão os artistas. Há vários ateliers, galerias de arte e lojas de artesanato de qualidade. Há também aos sábados uma feira de artesanato ao lado da Igreja de San Blas, que é organizada por uma associação de artesãos. O que significa que sua mercadoria é mais exclusiva. Vale conferir.
Há muitas lojas de artesanato na cidade. Gostei muito do Centro Têxtil Tradicional de Cusco. O objetivo da organização é preservar técnicas peruanas tradicionais de tecelagem, assim como apoiar comunidades locais. Os produtos são de muito boa qualidade.
Centro Têxtil Tradicional de Cusco. (Fonte: Mônica Sayão)
Visitar o Museu de Arte Pré Colombiana também é um programão. Seu acervo é excelente e está localizado bem próximo da Plaza de Armas. A criação desse museu foi uma iniciativa do maravilhoso Museu Larco de Lima, com o intuito de exibir parte do seu próprio acervo de arte indígena peruana de 3 mil anos atrás até o século XVI, quando os espanhóis chegaram ao continente sul-americano. Imperdível!
Algumas peças do Museu de Arte Pré-Colombiana. (Fonte: www.blog.earthviaggi.it)
4 – Gastronomia peruana
Há bons e ótimos restaurantes em Cusco. Para quem gosta de comida peruana há várias opções bacanas.
O restaurante mais badalado de Cusco é o La Chicha, do renomado chef peruano Gastón Acurio.
Outro restaurante muito bom é o Cicciolina. Instalado num casarão colonial, seu interior é colorido e alegre. Lá são oferecidos ceviches deliciosos. A cozinha é aberta e há também um bar de tapas.
O Don Tomás foi uma agradável surpresa. É um restaurante simples, tradicional, mas que oferece pratos muito bons por um ótimo preço.
Prato do Don Tomás: mesmo sendo um restaurante simples, sua comida foi ótima e bem apresentada. (Fonte: Mônica Sayão)
5 – Tour pelos sítios arqueológicos próximos a Cusco
Este é um tour fundamental, que visita quatro sítios arqueológicos e dura quatro horas. Todos eles são bem próximos de Cusco e vale demais conhecê-los. São eles: Sacsayhuaman, Q’enqo, Pukapukara e Tambomachay.
A primeira parada é Saqsayhuaman, que é o sítio mais importante do tour.
Para os incas era lugar de adoração a seus deuses. Os espanhóis julgaram que era uma fortaleza militar inca. É provável que tenha sido os dois.
A ideia de ter sido fortaleza faz sentido pelo tipo de construção e pela proximidade de Cusco. O fato de Saqsayhuaman estar em uma posição estratégica, a 300m acima da cidade, também indica que seria um ótimo ponto de observação para evitar visitantes indesejados ou inimigos temidos.
Sacsayhuaman é um lugar místico, lindo, e surpreende por suas construções de pedras enormes e certamente pesadíssimas.
A primeira imagem ao entrar no sítio arqueológico de Sacsayhuaman: colina escalonada deve ter sido um lugar sagrado para adoração e sacrifícios.
(Fonte: Mônica Sayão)
Parte da construção de pedra de Sacsayhuaman: provavelmente um posto militar para garantir a segurança de Cusco.
(Fonte: Mônica Sayão)
Detalhe das paredes de pedra de Sacsayhuaman: imaginem o peso de cada bloco de pedra!
(Fonte: Mônica Sayão)
Há muitas alpacas em Sacsayhuaman. Ao fundo a cidade de Cusco.
(Fonte: Mônica Sayão)
Vestidas a caráter! (Fonte: Mônica Sayão)
A seguir visita-se Q’enqo, que significa “labirinto” ou “zigue-zague” no dialeto inca quéchua. O nome é uma referência aos canais esculpidos na rocha local e também às galerias subterrâneas existentes.
Q’enqo possui uma estrutura semicircular, que parece ser um teatro, com um monólito no centro Acredita-se que era um local para rituais religiosos e também que pode ter sido um observatório astronômico.
Maneira que encontrei para dar uma ideia melhor de Q’engo. Muita pedra, inclusive com cavernas subterrâneas.
(Fonte: Mônica Sayão)
Pukapukara e Tambomachay também são sítios arqueológicos interessantes e fazem parte do programa.
Por todos os motivos acima citados, Cusco merece uma parada de dois a três dias.
Não é à toa que foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco, em 1983.
“Arquiteta de formação e de ofício por muitos anos, desde 2007 resolveu mudar de profissão. Desde então trabalha com turismo, elaborando roteiros e acompanhando pequenos grupos ao exterior. Descobriu que essa é sua vocação maior.”
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