28 de março de 2024
Turismo

Coimbra, é preciso conhecê-la

Falar sobre Portugal e suspirar são atos correlacionados para mim. É um suspiro longo que traduz as muitas saudades e lembranças de um país que tanto amo. Ainda mais que eu ia levar um grupo para Portugal em maio passado, e por causa da pandemia tudo foi adiado. Uma frustração.
São muitas as cidades, lugarejos, praias e algumas lindas serras que nos encantam, sem contar o prazer dos encontros fortuitos com portugueses tão gentis e educados.

Foi nessa colina, ao largo do rio Mondego, que Coimbra foi fundada pelos romanos.
No topo está a Universidade de Coimbra. (Fonte: Mônica Sayão)

Coimbra não foge à regra. Apesar de não ser o “epicentro” do turismo no país, hoje reservado a Porto, Douro, Algarve, Lisboa e arredores, Coimbra é sem dúvida um lugar que o leitor precisa conhecer. É um distrito da região do Dão, de ótimos vinhos, leitão assado da Bairrada e tentadores doces de ovos. Só para aguçar o paladar do leitor…

Um pouco ou muito da história:

Quando o Império Romano ocupou a região no século II a.C. construiu uma cidade no topo da colina próxima ao rio Mondego. Assim nasceu Coimbra. Com a queda do Império Romano no séc. V d.C. chegaram os povos germânicos. E a partir do início do séc. VIII d.C. os mouros tomaram grande parte da Península Ibérica, incluindo a região de Coimbra.

Aí entra a figura de D. Afonso Henriques, o Conquistador. O leitor se lembra dele nos livros da escola? Pois foi ele quem, nem 1128, liderou o início da reconquista dos territórios portugueses ocupados por séculos pelos mouros, vencendo a Batalha de Mamede. Ajudado por cruzados cristãos europeus, conseguiu aos poucos “empurrar” os inimigos para o sul e assim formou o primeiro reino de Portugal, na parte norte do país, e se tornou seu primeiro rei, D. Afonso I.

D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, passou a se chamar D. Afonso I.
(Fonte: historiadeportugalparatodos.blogspot.com)

A cidade de Guimarães, onde vivia D. Afonso Henriques, e onde começou o processo de expulsão dos mouros, é considerada o “berço da Reconquista”. Em 1131, D. Afonso I e sua corte resolveram se mudar para Coimbra, por ser uma cidade mais central para continuar o combate aos muçulmanos. Fez dela a nova capital com decreto assinado por ele, até que um seu sucessor, em 1255, resolveu se mudar para Lisboa.

Lisboa é a capital do país desde 1255 até hoje? Parece que sim, mas na realidade não é! Nunca nenhum governante fez novo decreto destituindo Coimbra de ser a capital. Conclusão: o leitor tem mais um motivo para visitar Coimbra… A história foi meio longa mas é um fato curioso.

O que fazer:

Coimbra tem um importante patrimônio arquitetônico e a grande presença de estudantes da Universidade de Coimbra dá leveza e alegria à cidade. É cortada pelo rio Mondego e cercada por colinas de onde se tem ampla visão do entorno.

1- Universidade de Coimbra: é a mais antiga universidade de Portugal, fundada em 1290, e de grande prestígio internacional. Localizada no topo da colina onde os romanos fundaram a cidade, possui alguns prédios belíssimos, com destaque para a Biblioteca Joanina, inaugurada em 1728.
Como Coimbra foi a capital de Portugal de 1131 a 1255 havia um palácio real, o Paço Real, na parte mais alta da cidade murada, do período da ocupação moura. Este local é hoje a praça chamada Paço das Escolas, onde fica a Biblioteca Joanina.

Paço das Escolas: praça icônica da Universidade de Coimbra, onde estão as construções mais importantes.
Nessa imagem, a Faculdade de Direito e a Torre, que pode ser visitada.
(Fonte: Mônica Sayão)
Em primeiro plano, no mesmo Paço das Escolas, está a Biblioteca Joanina. Desse pátio há uma bela vista da cidade e do rio Mondego.
(Fonte: Mônica Sayão)
A Torre pode ser avistada do rio Mondego. (Fonte: Mônica Sayão)
A fachada da Biblioteca Joanina e a estátua de D. João III, que foi o rei que em 1537 finalmente oficializou a universidade em Coimbra.
(Fonte: Mônica Sayão)

Para visitar a Biblioteca é necessário marcar hora com antecedência para garantir a entrada. São no máximo 60 pessoas por vez e a visita dura 15min. Seu interior é extraordinário. Vale a pena qualquer esforço. No site da Universidade são oferecidos bilhetes que conjugam a visita à Biblioteca com outros atrativos, como, por exemplo, visita ao Paço Real e à Capela de São Miguel, ambas bem ao lado da Biblioteca. Com sorte pode-se comprar o ingresso na bilheteria no local.

Mas como nem tudo é perfeito, fotos não são permitidas na Biblioteca.

Interior da Biblioteca Joanina. (Fonte: deviantart.com)

Não posso deixar de destacar a Porta Férrea, portão de acesso ao Paço das Escolas. No séc. XVII foi toda decorada com imagens importantes para a universidade, incluindo símbolos das faculdades mais significativas da instituição: Medicina, Direito, Teologia e Cânones.

Por último, mas nem por isso menos importante, é o uniforme dos alunos. É dito que a autora de Harry Potter teria se inspirado nesses uniformes para criar seu personagem tão famoso. O aluno que deseja usar o uniforme tem que vesti-lo por completo. Para os meninos, calça social preta, camisa branca, gravata, colete, casacão e capa preta. Para as meninas troca-se a calça pela saia preta e meia calça preta. O resto é igual. Esse uniforme é usado no verão e no inverno.

Acho extraordinária a manutenção dessa tradição. Assim como a cerimônia da Queima das Fitas, em maio, que é a festa dos formandos. Muito alegre e interessante de se ver!

A Porta Férrea e o uniforme característico dos universitários de Coimbra.
(Fonte: Mônica Sayão)

2 – Museu Nacional Machado de Castro:

Foi a mais grata surpresa ter conhecido esse museu, que é imperdível! Aberto ao público em 1913, ele foi ampliado e reformado ao longo dos anos.
Ele também está localizado na parte alta da cidade, próximo da Sé Nova. Seu acervo é incrível, passei horas fazendo a visita.

O museu ocupa um conjunto de prédios, alguns lado a lado e outros se sobrepondo, caso de construções do tempo dos romanos. O acervo reúne obras de arte e artefatos que contam a história de dois mil anos de Coimbra, desde o tempo dos romanos.

Pátio de entrada do Museu Nac. Machado de Castro. Por trás das colunas, podemos ver
guarda-sóis de um simpático café/restaurante do museu. (Fonte: Mônica Sayão)
Vista do café/restaurante do Museu Nac. Machado de Castro, com visão parcial da Sé Antiga. (Fonte: Mônica Sayão)
Parte do museu que remonta aos tempos romanos. (Fonte: Mônica Sayão)

Tirei dezenas de fotos do acervo do museu. Não dá para escolher umas poucas porque estaria sendo injusta com tantas preciosidades.

3 – A Sé Velha:

De todas as igrejas de Coimbra, destaco três: a Sé Velha, a Igreja de Santa Cruz e o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.

A Sé Velha manteve seu desenho original de arquitetura românica, característica da época em que foi construída por D. Afonso Henriques, em 1146. Seu claustro, construído no século seguinte, já tem características góticas. Vale muito conhecer.

Interior da Sé Velha com seu lindo retábulo.
(Fonte: pt.wikipedia.org)
Claustro da Sé Velha, construído um século depois da igreja. (Fonte: pt.wikipedia.org)

4 – Descer pelas ruelas e escadas a partir da Universidade até a Baixa da cidade:

Como subir é esforço desnecessário, sugiro o que sempre faço: pego um taxi até o alto e venho descendo escadas e explorando as ruas ladeira abaixo. Há recantos encantadores, cafés simpáticos e sempre a presença alegre de jovens universitários.

Cantinhos super simpáticos na descida. (Fonte: Mônica Sayão)
Mais da descida para a parte baixa de Coimbra: vários cafés disponíveis onde
Há sempre muitos jovens. (Fonte: Mônica Sayão)

5 – Torre e Arco da Amedina:

O Arco da Amedina era a porta principal de acesso à cidade murada de Coimbra. O Arco e a Torre faziam parte de um complexo de portas e torres defensivas da muralha construída durante a ocupação moura.

Arco da Amedina: herança moura. (Fonte: Mônica Sayão)

6 – Andar pela Baixa de Coimbra:

É uma delícia explorar o comércio bem variado e reparar na vida cotidiana dos locais. Tenho uma galeria de fotos só com as placas de ruas de Coimbra.

Passeando pela Baixa de Coimbra. (Fonte: Mônica Sayão)
Esse senhor estava todo dia no mesmo lugar tocando seu acordeão.
(Fonte: Mônica Sayão)
Mais da Baixa de Coimbra. (Fonte: Mônica Sayão)
Pelas ruazinhas da Baixa da cidade. (Fonte: Mônica Sayão)
As adoráveis placas de rua. (Fonte: Mônica Sayão)
Largo da Portagem é a principal praça do centro de Coimbra. (Fonte: Mônica Sayão)

7 – Igreja de Santa Cruz:

É uma das mais antigas da cidade, do séc. XII. No seu interior há lindos painéis de azulejos e um belo órgão. Lá estão os restos mortais de D. Afonso Henriques.

Em primeiro plano está a Igreja de Santa Cruz, ao lado da Câmara Municipal, na parte baixa da cidade. (Fonte: Mônica Sayão)

8 – Parque Manuel Braga e Parque Verde do Mondego:

Ao pé da cidade antiga, ao longo do rio Mondego, encontra-se o Parque Manuel Braga, que se une ao Parque Verde do Montejo para formar a maior e mais simpática área verde da cidade. Recomendo muito uma caminhada por lá: é lindo, limpíssimo e tranquilo. Sem contar que há um ótimo café/restaurante bem na beira do rio.

Parque Manuel Braga. (Fonte: Mônica Sayão)
Parque Manuel Braga: sempre ao longo do rio Mondego.
(Fonte: Mônica Sayão)
A área verde composta pelos dois parques é extremamente agradável assim como é o café/restaurante . (Fonte: Mônica Sayão)

9 – Mosteiro de Santa Clara-a-Velha:

Do outro lado do rio Mondego também há vários atrativos. Gostaria de chamar a atenção para o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, construído em 1314 por D. Isabel de Aragão, a Rainha Santa, substituindo um convento do século anterior.

Devido a inúmeras cheias do rio Mondego, o mosteiro foi alagado diversas vezes até ser abandonado definitivamente em 1677. Os restos mortais de D. Isabel, que lá estavam, foram transferidos para o Convento de Santa Clara-a-Nova, construído em substituição ao antigo numa localização mais alta e afastada do rio.

Recentemente, após 20 anos de recuperação, o mosteiro antigo foi aberto ao público.

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, no passado foi muitas vezes alagado.
(Fonte: Mônica Sayão)

10 – Quinta das Lágrimas:

Quem conhece a história de Pedro e Inês de Castro? Provavelmente só os mais antigos, como eu, vamos dizer assim. O caso de amor entre os dois é totalmente verdadeiro, como nos é contado? Como saberemos, e o que importa? Entre a realidade e a lenda, fico com a lenda, ainda mais se for uma história de amor.

Tentando resumir a história, conta-se que no séc. XIV Pedro, herdeiro do rei Afonso IV de Portugal, se apaixonou por Inês de Castro, uma linda jovem da Galícia, que era dama de companhia de sua futura esposa D. Constança. Por causa do escândalo, o rei mandou expulsar Inês do reino.

Depois do casamento, D. Constança morreu por causa de um parto. O romance entre Pedro e Inês voltou a reacender.

Com o temor do filho se tornar rei e continuar o romance com Inês, o rei Afonso IV mandou matá-la. Quando se tornou rei, com a morte do pai, Pedro mandou matar os dois assassinos tirando seus corações (ui!!!), e como havia se casado com Inês em segredo, fez com que a corte portuguesa beijasse a mão de seu cadáver sentado no trono real, como uma rainha, antes de enterrá-la.

Antes que me esqueça: os restos mortais de Pedro e Inês estão no Mosteiro de Alcobaça, um de frente para o outro. Que história!

Os jardins da Quinta das Lágrimas, em outros tempos pertencente a um nobre da corte, foi palco dos encontros proibidos de Pedro e Inês. Hoje a quinta é um hotel 5 estrelas, faz parte da cadeia Small Luxury Hotels.

Quinta das Lágrimas. (Fonte: casalmisterio.com)

Independente da veracidade da história, o hotel é excelente, com ótima gastronomia e serviço impecável. É uma boa sugestão de hospedagem ou, pelo menos, de visita. Localizado a 5 min de carro do centro histórico, tem atmosfera imbatível.

Como chegar a Coimbra:

Coimbra está localizada a 210 km de Lisboa e a 120 km do Porto. De ambas as cidades o acesso de carro é muito bom e simples, pela autoestrada A1, que tem pedágios, mas que é excelente. Há também a possibilidade de ir de trem (www.cp.pt) ou de ônibus (www.rede-expressos.pt)

Outros passeios:

Há dois passeios que recomendo, próximos à Coimbra: um é visitar o Palácio do Bussaco Hotel, de arquitetura manuelina característica do séc. XV, e de lindos jardins. Pode ser para almoço ou mesmo um café. Localiza-se a 30 km do centro de Coimbra.

Palácio do Bussaco Hotel: uma visita que vale a pena. (Fonte: almeidahotels.pt)

O outro passeio é visitar o sítio arqueológico de Conímbriga, situado a 17 km de Coimbra. Povoação que existiu desde a Idade do Bronze, mais adiante foi ocupada pelos romanos e só foi escavada no séc. XIX. Foi na época do imperador Augusto que Conímbriga foi reformada para atender ao urbanismo clássico de uma cidade romana.

Espero não ter cansado o leitor. Coimbra, apesar de relativamente pequena com seus 150 mil habitantes, é muito rica em história e atrativos.

Mônica Sayão

“Arquiteta de formação e de ofício por muitos anos, desde 2007 resolveu mudar de profissão. Desde então trabalha com turismo, elaborando roteiros e acompanhando pequenos grupos ao exterior. Descobriu que essa é sua vocação maior.”

“Arquiteta de formação e de ofício por muitos anos, desde 2007 resolveu mudar de profissão. Desde então trabalha com turismo, elaborando roteiros e acompanhando pequenos grupos ao exterior. Descobriu que essa é sua vocação maior.”

    4 Comentários

    • Zilton Neme 9 de janeiro de 2021

      Parabéns prezada Mônica
      Sempre lindos lugares e belas fotos.

      • Mônica Sayão 9 de janeiro de 2021

        Olá Zilton,

        Que bom que vc gostou.
        Muito obrigada!

        Abraço,
        Mônica

    • LEILA MARIA PEREIRA VIEIRA 9 de janeiro de 2021

      Monica, recordar Coimbra foi um prazer muito grande.
      Importante cidade portuguesa, com sua Universidade tão famosa. E vc a descreve tão bem que parece a estamos revendo, uma delícia. Parabéns.

    • Mônica Sayão 9 de janeiro de 2021

      Leila querida,

      Coimbra é um desses lugares que quanto mais a gente conhece, mais gosta.

      Muito obrigada.
      Bj grande,
      Mônica

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