29 de março de 2024
Turismo

Calafate, uma paisagem inesquecível

Tive a oportunidade de visitar o sul da Argentina em três ocasiões distintas: em 2016, 2008 e 1978. Pois é… em 1978 eu já era adulta e maior de idade, e isso é um pouco chocante. Mas, fazer o quê? Continuar aproveitando a vida, viajando muito, comendo bem e dando muita risada. Quem me conhece sabe que sou assim.

Fiz questão de destacar o ano de 1978 porque naquele tempo não havia internet nem revistas de turismo para a gente planejar uma viagem. Só mesmo recorrendo a uma agência de turismo, e mesmo assim, a informação era bem escassa.

Em 1978 havia uma grande disputa entre Argentina e Chile sobre a soberania do Canal de Beagle com suas inúmeras ilhas. E assim, lendo jornais sobre o confronto e pesquisando mapas (em papel, é claro) localizei Ushuaia (que será um dos próximos posts) e Calafate.

Esta é a visão mais abrangente que se tem do Glaciar Perito Moreno, próximo a Calafate. É impressionante!
(Fonte: Mônica Sayão)

Hoje falo sobre Calafate porque, na minha opinião, é o mais impactante dos atrativos da Patagônia argentina. Pelo mapa abaixo dá para ver como a Patagônia é uma região extensa, tanto do lado argentino como no chileno. Do lado argentino, os destaques ficam com Bariloche, Península Valdés (santuário de vida marinha, espetacular!), El Calafate, El Chalten e Ushuaia. Do lado chileno o grande destaque é o Parque Nacional de Torres del Paine. Tudo divinamente lindo!

Mapa da Patagônia argentina e chilena.
(Fonte: mapmania.org)

Em 1978, Ushuaia era a segunda mais conhecida das cidades patagônicas (a primeira era Bariloche, merecidamente) por causa do noticiário diário sobre o conflito. Diga-se de passagem, os dois países quase chegaram a um confronto militar.

Mas para nós, estrangeiros, Calafate era desconhecida. Nem estava próxima da zona do conflito, que ficava bem mais ao sul. Foi mesmo o gostinho por aventura que me fez incluí-la no meu roteiro.

Hoje a gente chega a Calafate de avião. Num voo direto, são 3 horas de Buenos Aires ou 1h15 de Ushuaia.

Em 1978, a gente tinha que chegar de avião à cidade mais próxima, Rio Gallegos (ver no mapa), e pegar um ônibus que percorria o trajeto de 316 km até Calafate feito em 5 horas, numa estrada ainda não asfaltada, e que não tinha nem um café ou posto de gasolina no percurso.

Mas eu sabia que lá havia glaciares lindos, principalmente um de nome Perito Moreno, e nada tirou meu humor. Pena que minhas fotos dessa época estejam num depósito, agora inacessíveis. Calafate tinha 200 habitantes e na cidade havia uma única rua onde ficava nosso hotel, que era bem simples, um posto dos correios, um punhado de casas, uns poucos lugares para se comer e um ponto de ônibus. Encantadoramente simples.

Consegui essa foto de Calafate na internet, sem data, mas é bem como era em 1978.
Tenho que agradecer ao W. Roil (assinatura no canto esquerdo) pela imagem.
(Fonte: elcalafate.tur.ar)
Em 2008 Calafate estava certamente maior, mas ainda pequena e bucólica. Ao fundo o Lago Argentino. (Fonte: Mônica Sayão)
A rua principal de Calafate é a Av. Libertador San Martin. Em 1978 era a única rua existente!
(Fonte: Mônica Sayão)

Quando voltei a Calafate com um grupo de turismo em 2008, a cidade tinha crescido. Havia vários novos hotéis, restaurantes e comércio. Felizmente as construções foram mantidas baixas, com no máximo dois andares, o que combina perfeitamente com a região, onde a natureza é a personagem principal.

Em 2016 o número de habitantes havia crescido bastante: ao invés dos 200 de 1978, agora são cerca de 22.000. Vários novos hotéis, alguns muito bonitos e sofisticados, mais e melhores restaurantes, cafés e chocolaterias, tudo erguido em função do turismo.

A época ideal para se visitar Calafate e redondezas é o verão. Dezembro, janeiro e fevereiro são os melhores meses – dias longos e temperaturas bem amenas. E mesmo no verão o clima muda muito: num mesmo dia faz sol lindo e de repente muda para tempo feio com vento. Então é lugar para se levar sempre um bom agasalho e uma capa de chuva.

O que fazer em Calafate:

1- Visitar o Glaciar Perito Moreno e o Glaciar Upsala: É necessário um dia inteiro para se conhecer cada um desses glaciares. O Glaciar Perito Moreno é a mais famosa atração do Parque Nacional los Glaciares, que engloba outros glaciares como o Upsala. O conjunto de glaciares é conhecido como Campo de Gelo Patagônico, e é uma das maiores reservas de água doce congelada do mundo.

São 80 km de Calafate até a entrada do Parque, beirando o Lago Argentino. A entrada no Parque é paga. Depois é só seguir as indicações para Perito Moreno. Há duas maneiras de conhecê-lo: a face sul só pode ser acessada de barco, a face norte de barco e/ou de carro. Os dois passeios são pagos, mas imprescindíveis e espetaculares. Aquela massa de gelo branco sem fim, com fendas de um azul profundo, sobre um lago azul turquesa, e com o barulho do desprendimento de pedaços de gelo sobre a água… só vendo para crer, não dá para não se emocionar!

Há também a opção de caminhar sobre uma parte do Perito Moreno – é o trekking. É um passeio caro, mas certamente emocionante. É necessário ter coragem e boa forma física!

Mapa do Parque Nacional los Glaciares em relação à Calafate. O Lago Argentino é enorme e lindo. O conjunto dos glaciares está na parte oeste do lago, próximo à fronteira com o Chile, e o acesso a alguns deles tem que ser feito por barco.
Este mapa não mostra a estrada já dentro do Parque que chega bem perto das passarelas de Perito Moreno.
(Fonte: patagonia.com.br)
A visão mais espetacular do Glaciar Perito Moreno é o contraste do paredão de gelo com o Lago Argentino.
Esta é sua face norte que tem 6 km de extensão e uma altura média de 50/60m acima do nível do lago. Pode ser admirada de barco e também a pé por inúmeras passarelas bem seguras de madeira. Dá para ver as pessoas na parte inferior da imagem.
(Fonte: Mônica Sayão)
O passeio de barco pela face norte é fundamental.
(Fonte: Mônica Sayão)O trekking é sensacional, mas meu grupo não se entusiasmou a fazê-lo. Há diferentes tipos de trekking à escolha do cliente.
(Fonte: brasileirosemushuaia.com.br)

Para se conhecer o Glaciar Upsala o caminho é um pouco diferente e a maior atração é navegar em um barco pequeno ou caiaque entre os icebergs que se desprendem do glaciar. É um visual mais bucólico e nem por isso menos lindo. Há tours distintos que chegam ao Upsala e muitas agências de turismo em Calafate para escolher qual comprar.

Passeio de caiaque, entre icebergs, próximo ao Upsala.
(Fonte: viator.com)

Se, na foto, o Perito é magnífico imagina viver esta experiência…

2- Visitar uma estância na beira do lago: A paisagem patagônica é basicamente árida e com pouca vegetação. A maior parte do entorno do Lago Argentino segue esse padrão, excesso quando se aproxima dos Andes e dos glaciares.

O Lago Argentino e a vegetação típica da Patagônia: aridez e pouca vegetação.
(Fonte: Mônica Sayão)
Outra região do Lago Argentino, com as montanhas e geleiras bem ao fundo.
(Fonte: Mônica Sayão)

Conhecer uma estância é um passeio bem interessante. E uma maneira de estar bem próximo dessa natureza tão distinta e majestosa. Em algumas delas há a opção de hospedagem, como a Estância Cristina. Nessa fazenda há passeios a cavalo, passeios até o Glaciar Upsala por terra e pelo lago, e, principalmente, uma sensação incrível de isolamento só com a companhia da natureza.

Passeio por terra até o Glaciar Upsala. (Fonte: estanciacristina.com)
Cavalgar rodeado por uma natureza espetacular é programa muito especial.
(Fonte: estanciacristina.com)

3- Passar o dia em Calafate e conhecer a Laguna Nimez: Vale passar um tempo explorando o comércio com artesanato local e muitos produtos à base de calafate, como geleias, cremes para a pele e sabonetes. Aliás, calafate é uma frutinha nativa da região e sua geleia é bem gostosa. Dia também para ir a um dos bons restaurantes experimentar o cordeiro patagônico, uma especialidade regional.

E aproveitar para conhecer a Laguna Nimez, que fica a cerca de 15min a pé do centrinho de Calafate. Essa lagoa recebe no verão várias espécies de aves migratórias quando passam pela Patagônia. Sem contar outras espécies, como os flamingos, que vivem lá. São várias trilhas e passarelas e aconselho a companhia de um binóculo, que pode ser alugado na entrada onde os ingressos são vendidos. Vale conferir.

A Laguna Nimez e seus flamingos.
(Fonte: Liam Quinn)

4- Fazer passeio a Torres del Paine, no Chile, num bate e volta: Essa é uma opção que pode ser um tanto cansativa, mas é uma excelente oportunidade para quem quiser ter uma ideia do que é Torres del Paine. E vou dizer ao leitor: é de uma beleza estonteante. Mas isso ficará para o próximo post!

Mônica Sayão

“Arquiteta de formação e de ofício por muitos anos, desde 2007 resolveu mudar de profissão. Desde então trabalha com turismo, elaborando roteiros e acompanhando pequenos grupos ao exterior. Descobriu que essa é sua vocação maior.”

“Arquiteta de formação e de ofício por muitos anos, desde 2007 resolveu mudar de profissão. Desde então trabalha com turismo, elaborando roteiros e acompanhando pequenos grupos ao exterior. Descobriu que essa é sua vocação maior.”

    4 Comentários

    • Leila M P Vieira 1 de novembro de 2020

      Mônica, que delícia recordar Calafate e Perito Moreno, um deslumbramento, que visão maravilhosa, adorei este passeio. Duas fotos vou me repetir estão fabulosas. Beijos.

      • Mônica Sayão 3 de novembro de 2020

        Leila querida,

        Essa região é deslumbrante mesmo! Boas lembranças de nossa última viagem para lá!

        Brigadão! Bjs
        Mônica

    • Maria Teresa da Cunha Alves 1 de novembro de 2020

      Monica, excelente matéria, não conheço essa região que é lindíssima, sua descrição animou-me a conhecer os glaciares da Patagônia. Parabéns!
      Fique bem. Beijinhos!!

    • Mônica Sayão 3 de novembro de 2020

      Teresa querida,

      É um passeio maravilhoso! Recomendo muito!

      Obrigada pelo carinho,

      Bjs
      Mônica

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *