Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, ministros do Supremo Tribunal Federal (Foto: Arquivo Google)
Tiro o título destas linhas de uma frase de José Saramago: “Qualquer idade é boa para aprender. Muito do que sei aprendi-o já na idade madura e hoje, com 86 anos, continuo a aprender com o mesmo apetite”.
Tenho ainda muito o que aprender, sobre muitos assuntos. Mas o que mais está a açular minha mente, nestes dias, é tentar compreender porque o STF, para minha infinita tristeza, resolveu perseguir a Operação Lava Jato.
A dívida que temos com o Ministério Público e com a Polícia Federal é fantástica. Se o Brasil está na situação em que está, pare um segundo, Leitor, e pense na penúria em que estaríamos se a Operação Lava Jato, sob o comando do juiz Sergio Moro, não tivesse agido como vem agindo desde 17 de março de 2014.
Ou algum de vocês acha que sem os mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão preventiva e de condução coercitiva, o esquema que movimentou bilhões em propina teria estancado como num passe de mágica?
O Supremo, e talvez o mal tenha começado com a escolha do nome dado a essa instituição, Supremo, anda numa arrogância espantosa. Talvez se tivesse recebido outro nome, tipo Mais Alta Corte, ou Corte Constitucional, ou semelhante, os onze advogados sob togas tão majestosas não impressionassem e assustassem tanto quanto assustam. Chegamos até a esquecer que eles são apenas onze advogados escolhidos por diversos presidentes da República e não figuras Supremas!
Pois essas figuras andam tomando decisões estranhíssimas. Exemplo gritante: o habeas corpus para o goleiro Bruno, um dos mais cruéis e frios assassinos de que se tem notícia! Decisão que já foi revogada, graças a Deus.
Mas anteontem uma nova decisão espantosa foi tomada por três desses advogados togados: foi revogada a prisão temporária do ex-ministro José Dirceu, homem sem freios que não se furta em dizer que “Na prisão ou em liberdade, sou um militante político e sempre serei”. Está aí uma verdade verdadeira: ele é um animal político que não se furtou a continuar a fazer política mesmo detido.
A carta que escreveu da prisão 14 dias antes de ser libertado, e que foi publicada no Estadão, é um documento de uma agressividade e de uma audácia inacreditáveis! Copio do Estadão: “Comparou os delatores que o acusam a “cachorros da ditadura”, defendeu uma virada à esquerda do PT, criticou o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a ação do juiz Sérgio Moro. Qualificou como golpistas o governo Temer e a mídia. § E, diante do risco do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ser candidato em 2018, em razão dos processos em que é réu na Operação Lava Jato, o petista escreveu: “Darão outro golpe, condenarão e prenderão Lula? Serão capazes dessa violência e ilegalidade? Veremos”.
Agora ele está como quer: em liberdade condicional, com uma bela tornozeleira, vivendo na capital da República. E minhas dúvidas só crescem:
1) quem o sustentará? Brasília é uma cidade cara…;
2) ele está proibido de sair de casa? Não li sobre essa proibição em parte alguma. Se vai poder sair normalmente, ir a restaurantes, cafés, teatros, padarias, farmácias, casa de amigos e parentes, como impedir que ele se encontre ou troque palavras com os companheiros de sempre?;
3) por que, no caso de Dirceu, não houve a mesma proibição feita a Adriana Ancelmo, de usar celular ou Internet?;
4) sair do país é a menor das preocupações do Dirceu: ele agora vai se dedicar a reencaminhar o PT e os petistas para a esquerda.
Fica a dúvida que alfineta o coração: pode, uma decisão dessa gravidade, ser tomada por apenas três dos onze togados? Será que essa é a Suprema Justiça?
Encerro com uma lição do historiador inglês, Lord Acton (1834/1902): “Lembrem-se, onde o poder está concentrado em poucas mãos, frequentemente homens com mentalidade ditatorial tomam o leme para si. Como a História nos vem provando à farta”.
É preciso muito cuidado.
Fonte: Blog do Noblat
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