28 de março de 2024
Colunistas Marco Angeli

Sérgio Moro se demite do Brasil


Suponho que para a maioria dos brasileiros que como eu, estarrecidos diante da demissão pedida e aceita hoje por Sérgio Moro, esse desfecho traz consigo algumas considerações inevitáveis, desde que se observe friamente o fato.
Independente da admiração e respeito que sempre tive por Moro – que inclusive cheguei a pintar, num retrato de que me orgulho – não há como fechar os olhos ao significado e às possíveis consequências de sua renúncia neste momento crucial da história brasileira.
Se, numa análise crua, Moro quisesse supostamente escolher o pior dia, a pior hora e o pior minuto para pedir demissão do cargo de Ministro da Justiça, acertou em cheio.
Na mosca.
O país passa, talvez, por uma crise jamais vista.
Enfrenta uma enorme crise de saúde e financeira com finais absolutamente previsíveis: um retrocesso econômico e uma deterioração que exigirão, durante meses, um esforço enorme de recuperação.
No epicentro desse cenário, o país observa ainda o presidente eleito bombardeado por todos os lados por abutres que tem a nítida intenção de derrubá-lo para obter novamente seus sujos privilégios.
E por brasileiros desunidos, atolados na desinformação despejada diariamente por uma imprensalha sem escrúpulos ou o menor amor ao país.
Moro pode ser criticado por qualquer outra coisa, exceto por ingenuidade.
Sabia exatamente o que seu nome -e prestígio- significavam para o governo de Jair Bolsonaro.
E sabia exatamente o dano enorme que sua demissão causaria.
Especialmente neste momento em que a nação mais precisa de união, força, e de seus homens mais fortes lutando pela manutenção dessa frágil democracia que ameaça ser empurrada para o ralo dos abutres da politicalha.
Portanto, à luz dos fatos, não nos resta senão uma triste conclusão:
Ninguém que pensasse no Brasil tomaria tal decisão neste momento grave.
Um soldado que abandona a batalha no pior momento só tem uma classificação.
Duas, três ou quatro semanas, o que custaria realmente a Moro adiar essa decisão, se fosse necessária, em benefício de seu país?
As justificativas para a decisão são simplórias: a demissão de Valeixo ou a ‘insistência’ de Bolsonaro em acompanhar os trabalhos da Polícia Federal.
Mesmo sendo um argumento fraco, se Moro ouvia os pedidos de Bolsonaro para interferir na PF – o cometimento de um crime, evidentemente – porque se calou durante meses?
Veja o vídeo e reflita conosco:

Talvez um dia, nos próximos meses ou anos, se conheça a verdadeira história por trás da demissão do ministro.
Mas isso já não importará mais.
O que realmente importa é o enorme dano à democracia que essa demissão causa neste momento, com consequências óbvias.
Dizem alguns que Moro já deixava pistas, ao longo de sua atuação no cargo, de um desfecho desse tipo.
Seu estranho silêncio durante a crise do Covid-19, seu apoio a governadores e prefeitos imorais, seu alheamento em relação às barbaridades das polícias nas ruas durante a crise, às esdrúxulas decisões do STF ou à perniciosa atuação da OAB, entre outros casos, alimentam os que acreditam que Moro jamais esteve alinhado ao governo federal.
Mais: a tentativa de nomeação de uma colunista da Folha e amiga de FHC, Ilana Szabó, ou o fato de sua assessora de Comunicação, Giselly Siqueira, ser nora de Míriam Leitão e ex assessora de Dias Toffoli e Lewandowski.
E de onde vem, subitamente, todo esse apoio e simpatia a Moro demonstrados por figuras enlameadas como Joice Hasselman, Frota ou Glenn Greenwald?
Fonte: www.marcoangeli.com.br

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