23 de abril de 2024
Colunistas Lucia Sweet

Um dia muito frio na serra


O vento entra pelas frestas das janelas, insidiosamente. Um mundo globalizado com a imprensa dominada interferindo na vida das pessoas e obedecendo à Nova Ordem Mundial: dominação absoluta por 1% da humanidade que, segundo estimativas, controla cerca de 80% da riqueza do mundo atualmente. Já foi a metade. A esquerda concentra renda e misérias.
Penso no livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, escrito em 1932. A influência literária do título vem de uma frase de “The Tempest”, de William Shakespeare, uma peça que versa sobre o que significa construir uma nova sociedade. O próprio John é um eco de Caliban, personagem da peça do bardo, que é descrito como um “selvagem”. Alguns críticos consideraram “Brave New World“ como uma paródia futurista de The Tempest.
“Admirável mundo novo é ambientado em 2540 d.C., que o romance identifica como o ano AF 632. AF significa “depois de Ford”, pois a linha de montagem de Henry Ford é reverenciada como um deus; essa era começou quando a Ford lançou seu modelo T. Está mais parecendo o mundo para o qual estamos caminhando agora, em 2022. Aldous Huxley só não imaginou a teoria conspiratória dos “reptilianos, uma das três castas de extraterrestres que usam o nosso planeta como cobaias. Há semelhanças sutis, sem comerem crianças.
Ideias consideradas insanas em 1932 nunca foram tão atuais.
“‘ Admirável Mundo Novo’ é um romance que examina uma sociedade futurista, chamada Estado Mundial, que gira em torno da ciência e da eficiência. Nesta sociedade, as emoções e a individualidade das crianças são controladas desde tenra idade, e não há relacionamentos duradouros porque “todos pertencem a todos” (um ditado comum do Estado Mundial). Huxley começa o romance explicando minuciosamente a natureza científica e compartimentada dessa sociedade, começando no Centro de Incubação e Condicionamento em Londres, onde crianças são criadas fora do útero e clonadas para aumentar a população. O leitor é então introduzido no sistema de classes deste mundo, onde os cidadãos são classificados como embriões para pertencer a uma determinada classe. Os embriões, que existem dentro de tubos e incubadoras, recebem quantidades diferentes de produtos químicos e hormônios para condicioná-los a classes predeterminadas. Os embriões destinados às classes mais altas recebem produtos químicos para aperfeiçoá-los tanto física quanto mentalmente, enquanto os das classes mais baixas são alterados para serem imperfeitos nesses aspectos. Essas classes, na ordem do maior para o menor, são Alpha, Beta, Gamma, Delta e Epsilon. Os Alphas são criados para serem líderes, e os Epsilons são criados para serem trabalhadores braçais …” Etc.
Sinopse do livro publicada na Amazon: “Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras “pai” e “mãe” produzem repugnância. Um mundo de pessoas programadas em laboratório, e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformismo. Um universo que louva o avanço da técnica, a linha de montagem, a produção em série, a uniformidade, e que idolatra Henry Ford. Essa é a visão desenvolvida no clarividente romance distópico de Aldous Huxley, que ao lado de 1984, de George Orwell, constituem os exemplos mais marcantes, na esfera literária, da tematização de estados autoritários. Se o livro de Orwell criticava, acidamente, os governos totalitários de esquerda e de direita, o terror do stalinismo e a barbárie do nazifascismo, em Huxley o objeto é a sociedade capitalista, industrial e tecnológica, em que a racionalidade se tornou a nova religião, em que a ciência é o novo ídolo, um mundo no qual a experiência do sujeito não parece mais fazer nenhum sentido, e no qual a obra de Shakespeare adquire tons revolucionários. Entretanto, o moderno clássico de Huxley não é um mero exercício de futurismo ou de ficção científica. Trata-se, o que é mais grave, de um olhar agudo acerca das potencialidades autoritárias do próprio mundo em que vivemos. Como um alerta de que, ao não se preservarem os valores da civilização humanista, o que nos aguarda não é o róseo paraíso iluminista da liberdade, mas os grilhões de um admirável mundo novo.

Lucia Sweet

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *