23 de abril de 2024
Lucia Sweet

Reflexões autobiográficas

 Lembrando que toda biografia é uma obra de ficção nada científica. Impossível levar a sério…

Eu não sou importante. Então por que escrever sobre mim ou sobre o que penso? Narcisismo ao contrário? Nem sei mais. Só sei que escrever, para mim, é como respirar. Não preciso que ninguém me veja respirar nem que goste de mim porque respiro, assim como não preciso que ninguém me leia nem goste de mim porque escrevo.
É impressionante como não dá para parar de pensar, e pensamos com palavras, ao contrário do que sentimos. O sentimento é uma sensação que não precisa de prosódia. Já tentou parar de pensar? Este é o objetivo da meditação: acalmar o coração. Mas, a cada respiração novos pensamentos surgem. Se eu conseguisse parar de pensar, também conseguiria parar de respirar, continuaria a viver e entraria em samadhi, segundo os rishis, os sábios imemoriais da Índia e do Tibet. Para eles, o êxtase espiritual é o que todos nós deveríamos procurar.
Assim como é em cima, é em baixo. Sri Ramakrishna (considerado a última reencarnação divina na Índia) diz que o samadhi é um estado de prazer tão intenso que parece que cada célula do corpo está tendo um orgasmo. E é assim, em meio a um prazer mental inenarrável e ininterrupto que Deus começa a ser encontrado. É apenas o primeiro estágio, que vai se aprofundando até que você se estabelece na verdadeira e interminável felicidade, Deus. Por isso, os ascetas que renunciam ao mundo e abandonam até as roupas, em muitos casos, para viver isolados em cavernas, buscando este êxtase espiritual, dizem que renunciantes somos nós.
E eu, acredito nisto? Não sei. Pelo relato de homens sinceros de várias religiões ao longo dos séculos, deve ser verdade. Mas, o que mais se vê são falsos gurus extorquindo dinheiro dos incautos. O deus da nossa civilização é o dinheiro. Talvez por isso estejamos em franca decadência. Dinheiro é uma ótima distração, mas não compra felicidade, só compra prazer. Só que um prazer efêmero.
Para comprovar o que eu digo, você sai e compra um sapato, o prazer que sente na hora da compra, passa. Aí você quer comprar outra coisa porque sente prazer na compra, não no objeto do seu desejo: um nova roupa, uma nova joia, um novo perfume. Esse tipo de prazer não dura. O prazer efêmero é um combustível destrutivo que você joga na fogueira dos desejos e produz chamas flamejantes, mais nada. Se não for realimentado, vira cinzas.
Lucia Sweet

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

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