14 de junho de 2025
Lucia Sweet

Arranjem a desculpa esfarrapada que quiserem, mas…

A Última Ceia é um símbolo religioso para os católicos. Bilhões de pessoas entenderam a alusão feita. Mas a culpa, para essa minoria lamentável que dominou os meios de comunicação, as universidades e os poderes do Estado, praticamente no mundo inteiro, é de quem entendeu, nunca de quem fez. O que eles fazem não é ofensivo, você é que se ofende. E se fizer o mesmo que eles, será cancelado e preso.

Queria ver achincalharem um símbolo muçulmano. Os cristãos que tentam justificar uma coisa dessas são cúmplices.

A abertura de uma Olimpíada deveria exaltar o esporte. Hoje em dia, como cancelaram o belo e o talento, buscam a notoriedade pela profanação de certos símbolos de certas religiões. Querem um partido único e uma religião única. Estão errados!

A seguir o belo post de João Paulo Oliveira e Costa:

“Entre a Última Ceia e a Festa dos deuses

Quadro 1
Quadro 2
Quadro 3
Quadro 4
Quadro 5
Quadro 6

Na sequência da polémica causada por uma das cenas da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, muitos sabichões, inclusive comentadores das nossas televisões como Ana Gomes, criticaram a reacção dos católicos que se indignaram. Então esses católicos não sabiam que essa cena era uma adaptação de um quadro de um pintor neerlandês sobre o tema “O Festim dos deuses” e que não tinha nada a ver com a “Última Ceia” de Leonardo da Vinci?? Pois bem, fiz uma pequena investigação que agora partilho convosco com as respectivas imagens.
Quadro 1 – Leonardo da Vinci pinta a fresco em Milão “A Última Ceia” (1495). Com o passar do tempo esta imagem torna-se um ícone desse episódio estruturador do Cristianismo. De acordo com o Evangelho, a Eucaristia foi instituída por Cristo nesse momento, que os católicos celebram sempre na Quinta Feira Santa.
Quadro 2 – Rafael, em 1515, usa o mesmo envolvimento para pintar o festim dos deuses, num período em que a obra de Leonardo ainda não tinha ganhado a fama. Estamos no apogeu do Renascimento, no mesmo ambiente intelectual que ainda vai ser usado, por exemplo, por Camões em “Os Lusíadas” e a Igreja está sedenta de reforma.
Mas essa reforma, desencadeada por Lutero a partir de 1517 vai trazer mais do que a reforma das instituições, que quase todos desejavam. Lutero nega a maior parte dos sacramentos, incluindo a Eucaristia e o mistério da consubstanciação.
Certamente por isso, os artistas que continuaram a pintar o Festim dos Deuses, colocaram-no antes num jardim, separando a tradição greco-romana das novas polémicas suscitadas pela Reforma. A memória da Última Ceia ganhou um novo sentido desde então e passou a ser preservada.
Quadro 3 – O festim dos deuses por Ticiano (1490-1576) (iniciado por Bellini (1436-1516), mas terminado por Ticiano que pintou precisamente a envolvência)
Quadro 4 – O festim dos deuses por Rubens (1577-1640)
Quadro 5 – O festim dos deuses atribuído a Jan van Balen e a Hendrik van Kessel, moradores na católica Antuérpia em meados do século XVII
Outros temas semelhantes, como o triunfo de Baco por Velasquez (1629) também foram pintados na envolvência de um jardim.
Os nossos simpáticos e inocentes organizadores dos Jogos desconhecem toda esta tradição católica ou pura e simplesmente ignoraram-na. Rubens? Ticiano? pfff
Entretanto, em 1635, Jan Harmensz van Bijlert, neerlandês calvinista estabelecido em Utrecht, que visitara Itália e se deixou influenciar por Caravaggio, resolveu também pintar o festim dos deuses, mas ao contrário do que faziam os seus colegas católicos de Antuérpia, resolveu repor o Festim em torno de uma mesa, ao modo da icónica “Última Ceia”.
Resumindo:
O quadro de Bijlert não é “a” representação original do Festim dos deuses, que foi pintado em plena contra-reforma por católicos num outro enquadramento.
O quadro de Bijlert, produzido em plena Guerra dos Trinta Anos, quando católicos e protestantes se enfrentavam cruelmente nos campos de batalha e disputavam sem quartel as questões teológicas nos púlpitos e nos livros, tem de ser entendido num enquadramento de afrontamento contra o mundo católico. Bijlert, que viajara por Itália, sabia o que estava a fazer.
Os simpáticos organizadores dos Jogos talvez não soubessem esta pequena História que aqui vos alinhavei, mas a sua ignorância não os torna inocentes. Já os comentadores televisivos são de facto, na sua grande maioria, inocentes ignorantes”.

Lucia Sweet

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

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Jornalista, fotógrafa e tradutora.

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