EUA têm um dos sistemas eleitorais mais esquisitos do mundo; resultado na Bolívia sai mais depressa
Não é todo dia que o público fica realmente com vontade de receber com urgência uma notícia internacional – ou nacional, quando se pensa um pouco melhor no assunto. Daí, quando aparece enfim uma ocasião dessas, a imprensa não consegue entregar à sua audiência a informação que ela está querendo: quem ganhou as eleições nos Estados Unidos? Só que, desta vez, nem os veículos de comunicação, nem os comunicadores, têm alguma coisa a ver com o problema. A notícia não saiu na hora que deveria ter saído porque, em consequência direta da maneira como os Estados Unidos organizam a sua política e o seu sistema eleitoral, não havia notícia. Os americanos votaram na terça-feira, dia 3 de novembro; na quinta, 48 horas depois – não 4 ou 8, mas 48 – ainda estava para se bater o martelo. Resultado de eleição na Bolívia sai mais depressa.
Eleição nos Estados Unidos tem disputa acirrada entre Trump e Biden Foto: Rick Wilking/ Reuters
Mesmo com a contagem final, porém, não dá para saber com 100% de certeza o que vai realmente acontecer. A votação majoritária do candidato da oposição, Joseph Biden, está sendo contestada na Justiça pelo candidato da situação, Donald Trump. Não há como informar com segurança absoluta se a vantagem numérica expressa nas eleições vai ser transformada, depois de contado o último voto, na entrega da presidência a quem teve mais votos. Também não se sabe como as coisas vão rolar no tapetão acionado pelo presidente Trump. Não está claro, nem mesmo, se os tribunais dos Estados, ou a Corte Suprema, podem por lei, por lógica ou por realidade política, mudar um resultado que saiu das urnas – e, menos ainda, quantos dias vai durar essa história, ou quanto tempo.
Por que demorou tanto? É o preço a pagar por um dos sistemas eleitorais mais esquisitos do mundo – tirando, é claro, eleição em país africano ou em recantos especialmente obscuros do Terceiro ou Quarto Mundos, nos quais em geral não existe nenhuma relação entre o resultado final e a vontade dos eleitores. Para começar, quem ganha as eleições presidenciais nos Estados Unidos não é o candidato que teve mais votos. É quem consegue a maioria, ou 270 votos, numa espécie de “Colégio Eleitoral” com 538 “votos estaduais”, atribuídos (pelo menos no papel) segundo a população de cada um dos 50 Estados; quem ganha nas urnas leva todos os votos daquele estado. (Com exceção de dois Estados, mas aí já nem vale a pena tentar entender.)
A apuração se faz como no Brasil de 100 anos atrás, com multidões de funcionários contando a mão os votos, um por um, em “juntas” espalhadas por mais de 9 milhões de quilômetros quadrados. Cada Estado conta do jeito que quer, na hora que quer, com os seus próprios apuradores e segundo as suas próprias leis e sistemas de apuração. Os eleitores podem votar pelo correio. Podem votar por e-mail. Podem votar depois de encerrada a votação no Estado vizinho, ou no seu próprio Estado. Podem votar até no dia seguinte – ou, então, na véspera da eleição, ou mesmo vários dias antes. Um candidato parlamentar que morreu em outubro foi legalmente eleito. Trata-se, em suma, de um monumental convite à fraude por parte de quem controla a apuração.
O resto desta salada não poderia ser muito melhor. As pesquisas de “intenção de voto”, pela segunda vez seguida numa eleição presidencial, foram um desastre; quinze dias atrás garantiam uma vitória de lavada de Biden sobre Trump e no fim, como se viu, foi uma disputa desesperada por meia dúzia de “votos decisivos” em fins de mundo como o “Nebraska”, o “Arizona” e outros lugares que nem os americanos sabem direito que existem.
Os Estados Unidos, onde há mais de um século, e em tantas coisas, se desenha o futuro do mundo, oferecem um enigma a cada eleição presidencial. Desta vez, metade da população não quis mudar nada. A outra metade quis voltar ao passado.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.