Hoje, o sonho de Jucá de ‘estancar a sangria’ da Lava Jato parece estar realizado
Foto: Google – UOL Notícias (meramente ilustrativa)
Em março de 2016, com o camburão da Federal rondando a casa de tantos políticos brasileiros, o então senador Romero Jucá fez um apelo histórico às forças vivas da nação: “É preciso estancar a sangria”. Estava falando da Operação Lava Jato, o maior ataque à corrupção já feito nos 500 anos de história do Brasil – que, àquela altura, estava fervendo em torno da roubalheira na Petrobras durante os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, um fenômeno sem paralelo na história universal da ladroagem. Na ocasião, Jucá era intensamente odiado como “golpista” por toda a esquerda nacional; só faltou chamarem uma tropa de choque da ONU para desembarcar aqui e levar o homem preso para um xadrez no Tribunal de Haia. Mas pouco a pouco a ficha foi caindo. O fim da Lava Jato era o que quase todo mundo na política brasileira realmente queria, da extrema esquerda à extrema direita, passando pelo extremo “centrão”. Hoje, quatro anos depois, o sonho de Jucá parece estar realizado.
Depois de ficar empurrando muito papelório de um lado para o outro, com um despacho aqui, uma canetada ali, o procurador-geral Augusto Aras, o mais alto mandarim do Judiciário já nomeado até agora por Jair Bolsonaro, acaba de dar um nó de marinheiro nas investigações da Lava Jato; a partir de agora, todos o processos que a operação tem no Superior Tribunal de Justiça deixam a “força-tarefa”, que meteu tanto ladrão do erário na cadeia, e passam a ser propriedade exclusiva da subprocuradora Áurea Etelvina Pierre. Há, como sempre, um grosso, penoso e incompreensível angu burocrático para explicar que tudo está sendo feito para o bem de todos e a felicidade geral da nação. Mas o que interessa saber, no fundo, é o seguinte: a mais notável realização profissional da doutora Áurea Etelvina é ter trancado na sua gaveta mais de mil processos, o que já lhe valeu inclusive um procedimento disciplinar – que, obviamente, nunca deu em nada até hoje. Além disso, ela fala mal da Lava Jato, é simpática à causa de Lula como “réu político” e considera que Sérgio Moro é um juiz “suspeito”. Já deu para entender, não é mesmo?
O funeral da Lava Jato, iniciado com o manifesto de Romero Jucá, adotado na prática, de corpo e alma, por seus inimigos do consórcio Lula-PT-classes intelectuais e completado, enfim, pelo governo Bolsonaro, é um lindo exemplo de como todo mundo se entende perfeitamente, na política brasileira de hoje, quando se trata de cuidar do seu interesse número 1: deixar a corrupção em paz. Jucá, um marechal de campo da direita, conclamou o Brasil a interromper a “sangria”, mas já ali o nome supremo da esquerda, o ex-presidente Lula, estava em guerra aberta contra a Lava Jato. Virou uma obsessão, para ele e o seu entorno: há cinco anos não faz outra coisa, basicamente, que não seja guerrear contra Sérgio Moro e exigir a punição de quem condenou a ele, seus empreiteiros, seus diretores de estatais e outros tantos pelo crime de corrupção. Com o tempo, juntaram-se a Lula o resto da política e todo o Brasil bem pensante. O resultado está aí.
É, também, uma soma exemplar da fome do Supremo Tribunal Federal com a vontade de comer da PGR. O STF, sobretudo por meio dos ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, assumiu sem disfarces o papel de advogado de defesa de Lula. Chegaram a acusar a Lava Jato de estar destruindo a democracia no Brasil com a “República de Curitiba”.
Ganham agora, após a mídia, o apoio da PGR do atual governo. Moro, odiado por Lula, é hoje odiado por Bolsonaro. Tudo a ver: é preciso defender as instituições, a democracia e o direito de defesa, certo?
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.