23 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Sobre Eternidade, Força e Honra

Em meados dos anos 2000 eu lecionava em uma escola da Zona Norte do Rio de Janeiro. Como a maioria das escolas públicas cariocas, ficava encravada em meio a várias “comunidades”. Cada dia era um desafio: ninguém sabia quando ocorreria o próximo tiroteio, a próxima incursão policial, o próximo confronto entre as gangues rivais.

Entre professores e alunos, cada um lidava de forma diferente com essa situação: havia os eternos assustados, sempre com olhar perdido para além das janelas e sobressaltando-se ao menor ruído considerado suspeito. Os apáticos, para os quais tudo tanto fazia. Os resistentes, que tentavam não se dobrar ao medo constante.

Um ótimo recurso para minhas aulas de História era a exibição de filmes: sabendo selecionar e contextualizando as obras, o tempo passado na sala de vídeo era, muitas vezes, mais valioso que o da sala de aula em si.
Até que um dia exibi “Gladiador”, de Ridley Scott, com Russel Crowe no papel de Maximus Decimus Meridius. Lembrei do filme hoje, e, quase 20 anos depois, minha pele fica IMEDIATAMENTE encrespada ao lembrar. Arrepio. Sério.
É impressionante o EFEITO que os valores simples enfatizados na obra causava nos alunos, imersos em meio ao caos social no qual viviam.
A saga do homem simples, do guerreiro que enfrentou os poderosos em busca de justiça, que recusou o poder que lhe era oferecido, que valorizava sua família acima de tudo, que respeitava os antepassados e tinha como seu norte a honra absolutamente inegociável inspirava a TODOS, sem exceção.
Eu ficava na sala, às escuras, sozinho, depois que os alunos saíam, alguns brandindo espadas imaginárias e todos sonhando com uma vida íntegra como do gladiador, apenas eu, quase em lágrimas TODAS AS VEZES, confesso, diante da confusão de mesas e cadeiras, ainda ouvindo os últimos acordes da canção que finaliza o filme, e da cena final, na qual o amigo de Maximus transmite a fortíssima ideia de que vale a pena prosseguir na luta (“vou ver você de novo… mas ainda não!”), e sob o impacto da obra e sua PODEROSA mensagem:
O que fazemos em Vida ecoa na Eternidade.
Força e Honra.
Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *