25 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Recolha os fragmentos do Tempo. Guarde! Proteja!

Foto: Unosuke Gamou
A arte de se livrar das roupas correndo em direção ao mar.
Sua mãe, na madrugada, lhe cobrindo com o edredom, você entre a vigília e o sonho.
O primeiro salário. A vez que saiu de casa. A primeira noite só, em casa. O primeiro beijo. O primeiro sexo. O primeiro orgasmo. O primeiro sono depois, acalentando ou acalentada.
As vezes que dormiu com seu cachorro no sofá, em meio ao filme.
A parada na estrada para um café. A paisagem ao redor.
Emergir de uma tempestade e ver o céu se abrindo, o sol brilhando. Vida.
Dançar as músicas dos 60, 70, 80. Entrar nos “enta”.
Fazer o bom, o justo, o certo, apenas por ser bom, justo e certo. Agradecer.
Todas as vezes que você chorou e obteve conforto.
Todas as vezes em que você se enrolou em volta de si e se tornou seu próprio ninho.
Quando deu abrigo, acolhida, aplicou bálsamo, unguento, suavizou feridas, aparou lágrimas, se tornou berço, escudo e guarneceu.
O exato momento em que olhou por cima dos ombros a estrada até aqui e concluiu que ela já foi maior – e colheu a incrível paz que essa verdade proporcionou.
Os amores. O Amor. A sua canção. A chuva e o frio, o crepúsculo e o pão, o cascalho e as botas, o acalanto, o fogão, o vento, o olhar.
Recolha os estilhaços do Tempo. Remende. Emende. Salve.
Guarde na retina. Acima dos olhos. Em algum lugar entre as escápulas e o esterno.
Coração.
Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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