Meu pai sumiu antes que eu nascesse. Pegou o minuano – era gaúcho – e desapareceu na curva do vento.
Mas não pensem que há qualquer intenção chororesca ou vitimística de minha parte ao contar isso. Até porque muito do que sou hoje, e que não é lá grande coisa, admito, provavelmente deve-se ao fato dele ter pego a estrada.
Portanto, eu, que por não ter tido pai entendo um pouco do assunto, acredito que ser pai é, talvez antes de qualquer coisa, permanecer por perto.
Ficar rente. Ao derredor. Para ouvir as coisas boas e as não-tão.
Para os afetos e desamores. Para puxar o edredom, esquentar o chuveiro e a cama, abrir a janela, deixar o sol tocar. Secar o sal do olhar e beber o riso, preparar o prato, cortar a carne, assar o pão. Passar frio, passar calor, pegar chuva, dar abraço, dar bronca, dar conta, dar beijo, dar cheiro, dar, dar-se.
Porque ser pai é, acima de tudo, estar por perto.
À distância de ofertar o ombro, ofertar o peito, oferecer um canto, saciar a sede.
Ser pai é oferecer-se diariamente em sacrifício no altar de um amor incomensuravelmente maior – e ser capaz de fazer isso com um sorriso, e fazer todos, absolutamente todos, os dias de sua vida.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.