Fui à padaria fazer umas comprinhas: pão integral, manteiga Aviação (se tem melhor, desconheço, viu?), Coca-Cola light… e um treco que eles chamam “bolo indiano” – que leva canela e um monte de coisas insólitas para mim, acho que especiarias que devem ter vindo pela antiga Rota da Seda, só sei que é bom pacas.
E a moça do caixa, sempre sorridente, até escrevi um texto sobre ela aqui, uma vez, enquanto esperava a máquina atualizar as planilhas do cartão, me disse:
– o senhor sabe que minha filha fez um bolo com tema “Minha Mãe é uma Peça” para mim?
Fiquei matutando. Eu nunca fui fã de cinema nacional. Alguns filmes antigos até assisti, mas a produção do cinema brasileiro sempre me parece algo anacrônico: não importa muito qual filme seja, tudo me soa datado, como se tivesse sido produzido em algum ponto dos anos 60, em meio à guerra ideológica então travada.
Uma exceção foi Paulo Gustavo.
Imagino Paulo Gustavo trabalhando com os antigos Trapalhões – ele tinha esse naipe, aquele humorista que nos faz rir só com o olhar. Mas era versátil pacas, do tipo de produzir um esquete à la Chico Anysio e sua personagem Salomé – aquela que falava com o Presidente, esqueci qual. Tal como Chico, nos divertia conversando ao telefone e desfiando um leque de situações imaginárias.
Pensei em tudo isso, em escrever esse texto, e até tinha pensado que ele seria uma forma de tributo a esse moço, tão moço, tão talentoso. Mas a maior honra que ele poderia receber eu jamais poderei igualar em meras palavras:
Foto: Google Imagens – Purepeople
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.