Foto: cena do filme “O Feitiço de Áquila”, com Rutger Hauer
Pode parecer loucura essa afirmação, que o amor que não se consuma pode ser O amor de toda uma vida, que história é essa?, mas é fato inconteste que os amores que assim se definem e se (ir)realizam escapam ao destino de quase todos os amores, ou seja, desamoreserem um dia e se perderem na poeira das veredas e caminhos.
Pode parecer desarrazoamento de minha parte, mas o ser que não concretiza o amor em suor e saliva meio que paira acima de todas essas mundanidades e conserva um amor parte vitoriano, parte platônico mesmo, parte contemplação pura e mística da beleza de outro ser.
Sabe?, é que as vezes o objeto da adorecência, da afetivação e do desejar o encarinhamento não pode nos pertencer na carne, na unha, no sal e no brilho do olho. Às vezes, o ser que se deseja guardar dentro da alma quentinha e encapsular no coração não pode, por outros quereres e misteres do mundo, cumprir esse nosso almejar profundo.
Fazer o quê? Desamar? Encrisolar o que se sente em um casulo hermético e frio? Dá é não. Dá é nada.
A solução é amar intransitivo.
É ser Pontes de Madison, é ser Feitiço de Áquila.
É saber que, mesmo sem estar juntos, os dois formam um só molde, um só bando, alcateia, biblioteca, lobo e águia, uma só sua canção.
O amor que não se realiza pode vir a ser o mais bonito.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.