Escrevi esse texto, um tanto autorreferencial, um tanto referencial à bela canção dos Beatles, “When I’m Sixty Four”, e fiquei matutando, hoje, no tal Dia do Idoso.
Curioso como os parâmetros para o envelhecimento foram sendo redefinidos através dos tempos. Um amigo uma vez postou uma manchete antiga de um jornal, no início dos anos 20, que se referia a uma pessoa de 40 anos como “idosa”.
A própria canção do Paul – sim, eu sei que virou modinha falar mal dos Beatles, mas eu estou obrando para isso. Não sabe o sentido de “obrando” nessa frase? Deixa quieto – fala de ter 64 como uma idade muito distante, de alguém muito, mas muito velho.
E hoje Paul McCartney tem, não 64, mas 77 anos.
Será que ele se sente idoso?
Ele nunca mais compôs outra “Yesterday”, mas o próprio Lennon dizia que foi a única coisa que ele fez…
Mas então.
Meu texto fala de ter 74. Pelo frigir dos ovos, 74 em breve não será mais considerado idade de idoso.
“Frigir dos ovos”?
Só alguém idoso escreveria isso… Eu, hein.
Segue o texto.
“Quando eu tiver 74
Quero ter tempo para ter tempo.
Para abraçar aquele livro que me espera na estante,
(Como uma namorada que aguarda um beijo)
Para andar de japona e chapéu Panamá no Inverno
E chinelas de vô.
Para ver todos os jogos de todas as divisões na televisão!
Para consertar aquela televisão de tubo, e a resistência do chuveiro e pintar a cerca
Para ouvir de novo todos os discos dos Beatles
Na ordem. Na ordem!
E escutar o canto do melro no quintal.
Quando eu tiver 74,
Quero ter tempo para ter tempo.
Para reler de novo todos os Tolkiens e Kings e Pessoas e Rosas e Lewis e Agathas e Florbelas
Para fazer bolo de chocolate de caixinha
Assar pão e moer café
Para olhar as crianças, e os bichos e as flores e os beija-flores e o sol e o frio
Quentando uma caneca nas mãos.
Quando eu tiver 74
Quero ter tempo para ter tempo
Para rever todos os filmes de Clint Eastwood e Ian McKellen e Michelle Pfeiffer
Para curar minha tendinite
E para beijar como se tivesse vinte
Para comemorar os melhores Valentine’s Day!
Quando eu tiver 74
Eu só quero ter tempo para ter tempo…”
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.