Toda vez que ouço alguém dizer que estamos vivendo em uma ditadura, eu experimento uma certa pena, um pouco de vergonha e alguma indignação.
Pena pela alienação – no sentido clássico da palavra – ao perceber que tantas pessoas, muitas vezes sinceras em suas preocupações ingênuas, realmente acreditam nessa narrativa farsesca.
Porque, senão, vejamos:
Alguém precisa avisar ao presidente que, se ele pretende implantar uma ditadura, está fazendo tudo errado.
Quer facilitar o acesso da população ao direito de possuir uma arma, por exemplo. Já ouviram falar em ditaduras com população armada?
Outra coisa: ao contrário do Voldemort de Garanhuns, que diversas vezes disse que, se voltasse ao poder, iria “regular a imprensa” – leia-se “censurar” – , a imprensa no Brasil nunca esteve tão livre – inclusive para atacar o governo com fake news diárias.
Também me sinto envergonhado por ser da mesma pátria de pessoas que, ao contrário do grupo que citei acima, não acreditam nessa narrativa, mas a propagam para desestabilizar o governo – para eles pouco importando se a maior vítima de um eventual fracasso da administração for o povo mais humilde que eles dizem defender.
E, finalmente, me indigno pelas pessoas que viveram em ditaduras reais, que penaram sob o tacão das botas totalitárias do nazismo e do marxismo, por exemplo, tendo os terríveis sofrimentos pelos quais passaram sendo vulgarizados dessa forma repugnante.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.