Li que alguns países estão empenhados em construir uma máquina do tempo.
Já se sabe que alguns cientistas há muito deixaram de tratar o tema como algo pertinente apenas à ficção científica e levam a sério a perspectiva.
Ouço dizer que será mais fácil – e lucrativo, em todos os sentidos – ir e voltar do futuro.
Tanto se me dá.
Quanto a mim, o que almejo é retornar para esse dia nublado de 1978, quando o fotógrafo Neal Boenzi, do New York Times, saiu a caminhar a esmo pelas ruas da Nova York setentista e encontrou esse grupo de crianças a brincar no parque.
Fico pensando sobre quem serão, seus nomes, sobre como o Tempo, esse tira malvado, as terá tratado.
Ter-lhes-á retirado sua essência, sua ANIMA, como faz a quase todos?
As terá espremido até coar toda a alegria que poreja, que entorna dessa imagem?
Verão elas, hoje em dia, adultas que são, essa foto, e ficarão a pensar sobre como o seu mundo, o NOSSO mundo, as esculpiu em cinzas, lágrimas e cicatrizes, até deixar apenas uma impressão suave, como marcas de existência em lava de vulcão ou uma teia que envolve uma borboleta?
Eu observo esse grupo de crianças, pela minha fresta do tempo particular, eu vejo Neal Boenzi fotografá-las, uma, dez, cem vezes e tudo que eu desejo é voltar.
Para 1978. Para mim mesmo.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.