Foto: Kyle Finn Dempsey
Lembro da que mais ia, no subúrbio do Rio, onde viviam os maiores amigos, companheiros de piques variados – inclusive o polícia-e-ladrão, onde todos queriam ser a polícia e o ladrão apanhava que nem… ladrão!
Do futebol de botão, da linha-de-passe na calçada, daqueles sorvetes que desciam enovelados de máquinas e da água bebida na rua, nas mangueiras das casas.
Tudo coisa velha e que seria considerada politicamente incorreta nesses tempos inodoros e insossos em que vivemos.
Outro dia retornei à essa casa – que não tem mais amigos, nem companheiros de brincadeiras antigas, muito menos sorvetes que se enovelam de máquinas ou mangueiras jorrando água nas calçadas – e me surpreendi:
A casa velha, que parecia imensa na minha meninice, toda ela mangueiras e sapotizeiros que pareciam subir aos céus, toda ela raízes destroçando cimentos, toda ela chuvas copiosas de verão, de pingos grossos que faziam até barulho no chão!, pareceu de repente pequena, acanhada, tacanha mesmo…
Doeu um pouco a sensação.
E mais ainda porque tive a impressão exata de não ter sido eu que cresci – mas a velha casa que encolheu.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.