7 de dezembro de 2024
Joseph Agamol

E hoje fui tomar vacina contra a gripe


É um segredo de polichinelo que eu, apesar das doze tatuagens, me pelo de medo de agulha.
E também não é novidade para ninguém que, em matéria de suportar dor, o maior dos homenzarrões não é páreo para a mais delicada moçoila – e olha que não sou propriamente um frouxo em matéria de sentir dor, afinal, passei por um cálculo renal.
Mas a danada da agulha, ai…
Só de pensar em levar a espetada eu já começo a suar frio, sentir vertigem e a iniciar o processo de transformação em um viadinho de cristal.
Entrei no consultório.
– (eu, fingindo esbanjar confiança, com ar blasé e esperançoso): oi, moça. Vim tomar a vacina contra a gripe, mas acho que não chegou ainda, né?!
– (ela, percebendo o leve tremor em minha voz, implacável): chegou sim, pode entrar e sentar. É depois dessa menininha aqui.
A menininha em questão estava sentada e me olhou curiosa, com certeza imaginando se gente velha precisava de vacina.
Uma outra enfermeira passava uma abelhinha vibratória no braço da menina: uma espécie de anestésico tópico.
A outra veio sorrateira e espetou. A menina nem chorou.
– ó que linda!!!! Nem doeu, né?! Vai ganhar um balão por ser tão corajosa !!!
A menininha saiu toda orgulhosa, levando seu balão. A enfermeira número 1 lançou-me um olhar que me pareceu maligno e disse:
– pronto.
– (e eu): pronto o quê?
– sua vez. Pode sentar.
Sentei. O suor porejava na minha testa, em milhares de gotículas frias e minhas pernas pareciam ter se transformado em dois sacos de gelatina.
Meus olhos estavam esgazeados e vermelhos e eu parecia prestes a cair duro ali mesmo. A enfermeira número 2 sorriu. Não foi um sorriso simpático.
– hummmmmmmmmm… ‘tá com medo, é?!
– (eu, tentando, ingenuamente, readquirir o controle da situação): er… é, mas quem não tem, né ?!
– mas um homão desse tamanho… quanto o senhor mede?
– 1,90m, grasnei, com voz roufenha.
– (a enfermeira, chamando triunfalmente as outras do turno): gente, esse moço de 1,90m e… quanto o senhor pesa? Quase 100kg??? Esse moço grandão aqui tem medo de uma agulhinha à toa, hahahaha!!!
Agora não mais uma, nem duas, mas umas CINCO enfermeiras se reuniram para rir da minha cara.
Abandonei qualquer fiapo de dignidade e me conformei à situação. Estendi o braço. A enfermeira número 1 veio com a agulha imensa em riste.
– (eu, a um passo do pânico): pera!!!!
– (ela, doida pra me furar): pera o quê?
– a abelhinha. Eu quero a abelhinha também.
Ela sorriu com desprezo mal disfarçado e apontou para a enfermeira número 2, que passou a abelhinha vibratória em meu braço.
A espetada veio, e com ela a dor, impávida que nem Muhammad Ali. Apelei pro último laivo de masculinidade e não desmaiei. A enfermeira número 1 – um pouco desapontada, acho que esperava que eu me jogasse no chão e esperneasse como o Angus Young durante um show do Ac/Dc – disse:
– pronto! Nem doeu, né?!
– É. Cadê meu balão? Eu quero.
Ano que vem tem mais.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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