24 de abril de 2024
Joseph Agamol

Da série: historinhas que mostram, de forma didática, porque o Brasil não deu, não dá e talvez nunca dê certo


1 – moro numa cidade do interior paulista, pequena o bastante para manter o charme do interior, como a igreja matriz, as revoadas de andorinhas e até aparições de alguns animais selvagens: nos limites da cidade apareceu uma canguçu, há uns dois anos.
Infelizmente, não é grande o bastante para ter um shopping grande e manter livrarias: havia três aqui – sobreviveu apenas uma.
Pois bem. Semana passada fui a um dos nossos dois minúsculos shoppings, que se mantém a duras penas. Um monte de lojas fechadas.
Resolvi o que havia para ser resolvido – fui a Centauro ver se tinha a camisa nova do Flamengo.
(E, não, não tinha: uma epopeia achar a camisa do Mengão aqui, viu?)
Como sobrou um tempo livre até a hora em que a Japa mãe ia me encontrar com a Japa filha, resolvi esperar em um quiosque-cafeteria: podia escrever e tomar um café, olha que legal! Duas paixões pelo preço de uma!
Sentei numa das mesinhas e fiquei aguardando uma das três (3!) jovens atendentes vir me perguntar o que eu desejava.
Quem sabe a capa de invisibilidade – tipo a do Harry Potter, aliás, vai ter um novo filme, estão sabendo? – que recobre os homens maduros já esteja me envolvendo: os 5 minutos iniciais viraram 10, depois 15… e nenhuma das moças veio perguntar o que eu queria, além de ficar com meu traseiro magro acomodado na poltrona.
Terminei o texto que estava escrevendo e fui encontrar minhas japas.
Sem café. E com a certeza de que o quiosque não iria se manter aberto por muito tempo. Não com aquele atendimento.
2 – hoje o novo livro de Stephen King chegou às lojas. Fui ver no site da Cuitura, e, às 15 horas, dei de cara com essa incrível promessa:
“Entregamos em SUA CASA, HOJE, até as 22h, na região da Grande São Paulo!”
Achei essa promessa linda e fofa, mas, como não moro na Grande Sampa, liguei para a ÚNICA livraria da minha aldeia e perguntei se tinham O Instituto, de Stephen King – vamos prestigiar o comércio local, sacumé. Testemunhem o desanimador diálogo que se seguiu:
(Eu, esperançoso) oi! Vocês têm O Instituto, do Stephen King?
(A moça do outro lado, parecendo simpática) dexovê… na loja não, moço… Mas podemos encomendar!
(Eu, ainda acreditando, sou mesmo um pascácio) ah, beleza! E chega quando? Amanhã? Segunda, no máximo?
(A moça do outro lado, provavelmente ESTUPEFATA por alguém acreditar que um livro chegaria TÃO RÁPIDO – quem tem tanta pressa para ler um livro assim, ora bolas?!) não, moço. Chega em SETE DIAS ÚTEIS! (grifo meu)
Agradeci, desliguei o telefone, desalentado. SETE DIAS. Sete FREAKING dias. ÚTEIS! Enquanto a Cultura prometia entregar hoje, até as 22h, para os moradores da Grande Sampa.
Entenderam? Prender e manter preso um ex-presidente e chutar a ex-presidente é o mais fácil. O verdadeiro trabalho é mudar isso aí.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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