29 de março de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Crossroads – dicão de filme!


Corria o ano da graça de 1986. O Rio de Janeiro ainda era lindo.
O primeiro (e, para quem esteve lá, o ÚNICO) Rock in Rio tinha acabado de acontecer.
Pode parecer incrível, mas você comprava ingressos de PAPEL mesmo, em bilheterias e lojas.
Custava o equivalente a uns dois bilhetes do cinema: e tinha ônibus de vários pontos da cidade pra ir para a chamada Cidade do Rock.
E era rock do bom mesmo, não esses lixos multiculturalistas de hoje em dia: tinha Ozzy, tinha AC/DC – lembro que temi pela minha audição na hora do show dos caras – , tinha Whitesnake, tinha Iron Maiden e tinha, sim, QUEEN – assim mesmo, em maiúsculas.
Mas tudo isso é uma outra história.
Eu era um garoto terminando o Segundo Grau e prestes a entrar no curso de História da UERJ – que na época já era um reduto esquerdista até o cerne, culpa dos milicos que acharam que bastava derrotar a guerrilha. E não, não bastava, como hoje a gente sabe bem.
Em uma tarde de folga eu zanzava pelo então aprazível bairro da Tijuca em busca do que fazer quando entrei numa galeria comercial e estava lá, em cartaz no Coper Tijuca (assim mesmo, Coper): A Encruzilhada.
A Tijuca na época era quase uma Cinelândia, parte do Centro do Rio assim chamada pela quantidade de cinemas de rua – hoje morreram todos, só o Odeon resiste ainda, creio, mas lá tínhamos o Metro Boavista, os dois Palácios e o Pathé, o mais bonito, que tornou-se uma igreja evangélica. Na Tijuca tínhamos o América, um outro Palácio, e o pequenino Coper Tijuca.
Fui ver o cartaz do filme e o protagonista era Ralph Macchio – astro de Karatê Kid.
Não me pareceu promissor, mas entrei assim mesmo para assistir.
Peguei a primeira sessão: uma da tarde.
E só sai de lá depois da ultima: assisti a três sessões SEGUIDAS do filme (na época a gente podia se dar a esses luxos: você pagava um ingresso e ficava o dia todo se quisesse – estratégia boa era ir com a namoradinha ver a primeira sessão e reservar a outra para os amassos de praxe…).
A história em si é simples e mescla ficção e realidade, toda estruturada em torno da música Crossroads Blues, do mítico bluesman Robert Johnson, que teria feito um pacto para tocar violão como ninguém.
A música cita um amigo chamado Willie Brown – e e é aí que a ficção se mistura à realidade, quando o personagem de Ralph, um garoto que toca violão clássico mas ama os blues, decide libertar Willie Brown do asilo-prisão em que se encontra: em troca de aprender uma canção inédita de Robert Johnson.
Filme-estrada típico, com brigas de bar, romance e a trilha maravilhosa tocada por Ry Cooder. A cena final traz o lendário guitarrista Steve Vai num duelo de guitarras tão incrível que fez parte da prova que fiz para ingressar na Escola de Música Villa Lobos.
Todo esse papo é para deixar você com vontade de assistir o filme, sim.
Depois me conta.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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