28 de março de 2024
Colunistas Joseph Agamol

A garota que amava o mar

Foto: Kobi Refaeli

Ela tirou as sandálias e os óculos escuros e afundou os pés na areia fofa. Suspirou ao contato. Prazer, ah era tão bom! Tinha quase se esquecido. Tempo. O mar à sua frente era quase inacreditável de tão azul, tanto que ela pensou: “só pode ser montagem, gente, que azul é esse?!”, e se riu. Dobrou as barras da calça jeans, com cuidado para as sandálias não caírem de suas mãos, mordendo as hastes dos óculos para também não se perderem na areia.

Sentou. Olhou o mar oceano desmesurado ronronando aos seus pés. Sempre nutriu sentimentos ambíguos diante das águas. Havia um pouco de medo, e respeito, claro. Mas também via o mar como uma estrada turquesa, uma ponte para terras de sonho, um condutor poderoso para suas emoções, um templo pagão onde se ajoelhava e sussurrava seus mais profundos sigilos.

O ano estava caminhando para o ocaso. Ela gostava de visitar o mar e seus segredos nessa época, de expor diante das divindades oceânicas seu balanço, suas perdas e danos, conquistas heróicas e fugas vergonhosas. Tinham acontecido.

Houve riso, farto e luzidio, claro, houve seu quinhão de lágrimas, também, de sal cristalizando em veios pela sua face, houve gente indo e vindo, e gente ficando, amores de chegadas e partidas, voláteis como as marés, belos como as fases da lua, e amores de permanência, os melhores, os amores bons. Houve festa e houve trabalho duro, houve luta, tanta, houve prece e fé, houve maravilhas, e houve mar, tanto mar, ah, tanto, tanta vida!

Ela teve a impressão de um vislumbre nas ondas, um brilho de fria prata, visão de sereia, de náiade, talvez, promessa de um outro ano a lhe instigar, pejado de desafios e recompensas. Ela firmou o olhar nas águas e sussurrou para a ninfa, antes que ela submergisse de volta ao seu reino, antes que ela achasse que era só imaginação:

– Quero tudo outra vez. Por favor. Tudo de novo. E de novo. E mais uma vez.
Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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