Tuca estava bronqueada.
Sentada no sofá, pernas de índio, bracinhos cruzados, um bico amarrado do tamanho do mundo.
Olhava para a TV, hostil.
Vô Manduca chegou, tomou assento ao lado da pequena, que, quieta estava, quieta ficou. Vô, sabedor do temperamento da moça, ofereceu um chocolate – sempre funciona, em todas as idades! – e esperou até ela desembuchar.
Não tardou. – vô, mas que saco, viu?!
Tem mais de dezetrinta canais aqui e não tem nada que preste! – hummm… e o que você está procurando, moça? – música, vô. – e repetiu para não pairassem dúvidas – MÚSICA! Mas só encontro essas feiuras, esse barulhão sem graça, essas… essas… E fez um gesto de impaciência em direção à TV, onde pontificava uma canção tradicional infantil – em ritmo de funk.
Vô Manduca decidiu que era hora. Pediu o controle remoto à fedelha brava, brava como a mãe – ele sorriu. – tó, vô.
O que o sinhô vai fazer? Ela perguntou, entre curiosa e divertida. O velho não respondeu. Sintonizou o YouTube – deu mentalmente graças por ter insistido em aprender, ignorando a zombaria do restante da família – e foi na busca, catando milho, digitando:- E… L… V… I… S… Elvis. Pronto!, exclamou, triunfante.
A guria arregalou um zoião: – queeeeeeeem é esse moço?! – Elvis é o Rei. Ouve só.
Essa música é a mais perfeita definição para FELICIDADE.
Sabe quando você toma uma Coca-Cola geladinha num dia de calor senegalesco?
Essa música é assim! – o que é selenaguesco, vô?- xapralá. Ouve, mocinha. (e se você quiser, ouça também)
Aos primeiros acordes de violão de “Burning Love”, ao primeiro som da voz de Elvis, ao primeiro “uhuhu”, o rosto da menina se iluminou.
E ela dançou, como provavelmente dançaria por toda a vida, ao ouvir a alegria em forma de música.
Elvis é o Rei. Sempre vai estar por aí.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.