19 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

A canção da alegria

Foto de Arthur Wertheimer, Elvis aparece sacudindo as mãos para secá-las, em um trem de Nova York
para Memphis, em julho de 1956. Ele tinha apenas 21 anos

Tuca estava bronqueada.

Sentada no sofá, pernas de índio, bracinhos cruzados, um bico amarrado do tamanho do mundo.

Olhava para a TV, hostil.

Vô Manduca chegou, tomou assento ao lado da pequena, que, quieta estava, quieta ficou. Vô, sabedor do temperamento da moça, ofereceu um chocolate – sempre funciona, em todas as idades! – e esperou até ela desembuchar.

Não tardou. – vô, mas que saco, viu?!

Tem mais de dezetrinta canais aqui e não tem nada que preste! – hummm… e o que você está procurando, moça? – música, vô. – e repetiu para não pairassem dúvidas – MÚSICA! Mas só encontro essas feiuras, esse barulhão sem graça, essas… essas… E fez um gesto de impaciência em direção à TV, onde pontificava uma canção tradicional infantil – em ritmo de funk.

Vô Manduca decidiu que era hora. Pediu o controle remoto à fedelha brava, brava como a mãe – ele sorriu. – tó, vô.

O que o sinhô vai fazer? Ela perguntou, entre curiosa e divertida. O velho não respondeu. Sintonizou o YouTube – deu mentalmente graças por ter insistido em aprender, ignorando a zombaria do restante da família – e foi na busca, catando milho, digitando:- E… L… V… I… S… Elvis. Pronto!, exclamou, triunfante.

A guria arregalou um zoião: – queeeeeeeem é esse moço?! – Elvis é o Rei. Ouve só.

Essa música é a mais perfeita definição para FELICIDADE.

Sabe quando você toma uma Coca-Cola geladinha num dia de calor senegalesco?

Essa música é assim! – o que é selenaguesco, vô?- xapralá. Ouve, mocinha. (e se você quiser, ouça também)

Aos primeiros acordes de violão de “Burning Love”, ao primeiro som da voz de Elvis, ao primeiro “uhuhu”, o rosto da menina se iluminou.

E ela dançou, como provavelmente dançaria por toda a vida, ao ouvir a alegria em forma de música.

Elvis é o Rei. Sempre vai estar por aí.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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