19 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

A Beleza dissonante

Foto: Annabelle Wallis

Ontem, assistindo a 2a temporada de “Peaky Blinders” – ótimo, recomendo – me surpreendi ao ver que a atriz Annabelle Wallis operou o nariz.

Eu considerava a inglesa Annabelle Wallis uma bela mulher, com nariz torto e tudo. Aliás, principalmente pelo nariz.
Eu, que tenho gostos considerados exóticos, penso que características fora dos padrões contribuem para uma, digamos, particularização da Beleza.

Annabelle Wallis é bela. Mas jamais chegará perto da beleza matemática de uma Margot Robbie, por exemplo.
Por “beleza matemática” eu especifico a beleza perfeitamente equilibrada, simétrica, a tal da Proporção Áurea que os artistas renascentistas buscavam e está presente em suas maiores obras e na natureza. E em… Margot Robbie.

A beleza de Margot Robbie é algébrica. Jamais poderá ser alcançada pela também bela Annabelle – perdoem a redundância.
Com seu nariz levemente dissonante, Annabelle pertencia ao mundo real: uma linda mulher, ao alcance dos nossos olhos, no metrô, no pub, no fog londrino ou na canícula carioca.

E, por estar ao alcance dos olhos, estava também ao alcance dos sonhos. Sua leve desarmonia a tornava ainda mais bela, posto que a tornava mortal. Ela não competia com a beleza etérea, olímpica, rigorosa, precisa e inatingível de Margot Robbie.

Claro, Annabelle Wallis continua linda. Mas, ao corrigir o que a tornava única, Annabelle tornou-se… comum. Mais próxima da perfeição, sim, mais simétrica, sim, provavelmente ainda mais bonita, mas mais… comum.

Penso que devemos cuidar – no sentido de prestar atenção – àquilo que pensamos ser imperfeições.
Elas podem nos tornar exatamente aquilo que acreditamos não ser, e lutar contra elas pode ter o efeito contrário: em busca do incognoscível, na tentativa de nos igualarmos ao divino, corremos o risco da uniformização medíocre.

Esquecendo que a beleza humana quase sempre é forjada pelas dissonâncias que a compõem.
Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

1 Comentário

  • Simone 27 de julho de 2022

    Tive esta mesma decepção…o nariz dava um charme unico a ela…adorei sua analise! Penso o mesmo! Abçs

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