20 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

80’s

Hoje no carro tocou uma música da Legião Urbana. Eu nem era muito fã – para ser sincero, achava até um pouco chatinhas as canções. Mas, se você tinha perto de 18 anos em 1983, escapar de versos como “Será que é só imaginação/ Será que nada vai acontecer” era tão impossível quanto deixar de ver “De Volta para o Futuro”, por exemplo.

Foto: Kate Bush

E, como uma coisa puxa a outra e como a estrada era modorrenta, logo veio aquele aluvião de lembrança, como as águas de março de Jobim – ele próprio uma lembrança, querida.

Festas juninas de rua – lembro que as meninas andavam de braços cruzados sobre os seios, em meio à multidão, para evitar o assédio. Sim, nem tudo era dourado nos anos que passaram, amigos. Esse é um exemplo de como o mundo atual é melhor.

Os cabelos eram horríveis, claro. Em compensação, havia os comerciais de cigarro na televisão – ééé, havia propaganda de CIGARROS na tv! – com trilha de Peter Frampton, Asia, Journey e outros do chamado “rock clássico”.

Muito dos 80’s que lembro era música: que era breguíssima – mas chique pacas, ao mesmo tempo. “True”, Spandau Ballet. “Jump”, do Aztec Camera. “More can i bear”, do Matt Bianco, que misturava pop com bossa nova. Très chic, vizinhos.

Mas a minha memória mais nítida dos 80’s – eu que as vezes tenho dificuldade em lembrar o que comi no jantar ontem, assistindo “O Gambito da Rainha”, bom pacas, aliás, recomendo – é sobre como a vida parecia mais… sei lá. O termo que me ocorre é simples, mas isso… meio que simplifica demais, entendem?

Para mim, que estou na estrada há quase 56 anos, os anos 80 foram uma espécie de ponte, travessia entre a ingenuidade dos anos 70 e a década de 90, quando começamos a “cair na real”, por assim dizer.

Há um gênero musical oitentista, subproduto da “New Wave”, chamado de “New Romantic”.

Acho que é isso: jovens lobos da estepe, como eu fui, se achavam os “novos”, mas eram, na verdade, uma espécie de “últimos românticos”. Sem saber. Jovens nunca sabem.

Acho que somos assim até hoje.

Viram como uma simples canção dá para metro e meio de prosa?

(Texto: Joseph Agamol )

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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