19 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Relicário

Eu sou um viajante do tempo. De um tempo mais suave e generoso, talvez, embora com suas asperezas, também, sua dose diária de agruras a nos esculpir.

Eu abro meu relicário particular, meu portal encoberto sob aparência de mera imagem e viajo.

De volta aos tempos em que garrafas de leite eram deixadas ao pé das portas de casa, junto com jornais, muitas vezes.

Hoje já quase não há, nem um, nem outro, substituídos por muito mais práticos caixinhas de papelão e sites de notícias.

Mas não aqui, não nesse mundo, suave, em P&B ou sépia, por essa fresta do tempo, na qual me agarro com as duas mãos e contemplo as garrafas de leite, os guardas-noturnos, as máquinas de escrever, os namoros furtivos nos portões, as luzes amarelas das cidades, se derramando em cones dourados dos postes de iluminação pública, pelas ruas calçadas em irregulares paralelepípedos, os livros em brochura, os acordes em sétima aumentada de Tom Jobim, as bancas de jornais abertas às 5 da manhã, a espuma branca das praias ainda quase intocadas.

Como as memórias do meu relicário particular.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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