29 de março de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Quando o mundo fica feio demais para que eu o suporte, eu me refugio em Ava Gardner

Foto: Eric Carpenter

Outro dia li em algum lugar que as aves do Paraíso estão em extinção.
Cada vez há menos lugar no mundo para as aves do Paraíso. Como não há para tigres da neve, falcões peregrinos, lobos portugueses.
O belo em todas as suas formas e expressões está desaparecendo, sendo substituído, ou por simulacros da beleza, ou por nada mesmo, em total desprezo por algo que alguns consideram sem função no Universo.
Tolos.
Assim, perdemos Bach e Vivaldi, Tolkien e Guimarães Rosa, Rafael e Da Vinci, Fernando Pessoa e Florbela Espanca, apenas como exemplos de escultores do Belo em formas e eras diferentes.
Penso que nesse mundo disforme que estamos engendrando não haveria lugar para Ava.
Ela provavelmente pareceria quase ofensiva com sua beleza incaracterizável, em tempos de hipocrisia disfarçada de representatividade.
Tão ofensiva quanto soaria um minueto de Vivaldi para um funkeiro ou a leitura de “O Senhor dos Anéis” para um escritor de auto ajuda.
Gosto de pensar que, em outros espaço-tempos mais bonitos e generosos que o nosso, Ava paira – como uma ave do Paraíso – acima de toda essa irrelevância.
Ciente de que sua beleza etérea é mais sólida do que quase tudo que existe hoje em um mundo que se extingue em suspiros e profanações.
Jean Cocteau disse uma vez que Ava Gardner era o mais belo animal do mundo.
Eu acho que Ava Gardner é uma das réguas e esquadros em que o Universo mede, molda e define o Belo.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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