6 de outubro de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Os miseráveis

Imgem: Google Imagens – Os Geeks

A massificação do uso da internet facilitou a vida de milhões de pessoas. Óbvio.

Mas me incomoda profundamente o seu lado obscuro. O seu potencial nefasto para, em questão de horas ou dias, destruir vidas.

Casos não faltam.

Cada vez mais, absolutamente do nada, milhões e milhões de pessoas, gente comum, que trabalha ao seu lado, que pega a condução consigo, ou que faz o mesmo curso, dedica-se com obstinação a destruir vidas alheias. 

Isso em troca de um riso, de uma graça sem graça, de um emoji.

Sem uma mínima reflexão que seja, sem exercer a rara arte de pôr-se no lugar de outrem – ou do próximo. Aquele, citado nas Escrituras.

Nos anos 80, no auge da Guerra Fria, surgiu a notícia sobre uma nova bomba, tão poderosa quanto a bomba atômica, mas que não causava destruição material: matava “apenas” o que estava vivo. Apenas. A bomba de nêutrons. Uma bomba “limpa”, digamos.

Isso me lembra essa gente que se presta gostosamente a aniquilar vidas alheias por detrás do cristal líquido de celulares e notebooks, detonando suas bombas de impiedade, malevolência e insensibilidade.

São os miseráveis: não aqueles imortalizados por Victor Hugo, mas os portadores de um tipo de decadência mais profunda e arraigada, que se manifesta independente de classe social: uma triste, corrosiva e imutável miséria moral.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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