A massificação do uso da internet facilitou a vida de milhões de pessoas. Óbvio.
Mas me incomoda profundamente o seu lado obscuro. O seu potencial nefasto para, em questão de horas ou dias, destruir vidas.
Casos não faltam.
Cada vez mais, absolutamente do nada, milhões e milhões de pessoas, gente comum, que trabalha ao seu lado, que pega a condução consigo, ou que faz o mesmo curso, dedica-se com obstinação a destruir vidas alheias. 
Isso em troca de um riso, de uma graça sem graça, de um emoji.
Sem uma mínima reflexão que seja, sem exercer a rara arte de pôr-se no lugar de outrem – ou do próximo. Aquele, citado nas Escrituras.
Nos anos 80, no auge da Guerra Fria, surgiu a notícia sobre uma nova bomba, tão poderosa quanto a bomba atômica, mas que não causava destruição material: matava “apenas” o que estava vivo. Apenas. A bomba de nêutrons. Uma bomba “limpa”, digamos.
Isso me lembra essa gente que se presta gostosamente a aniquilar vidas alheias por detrás do cristal líquido de celulares e notebooks, detonando suas bombas de impiedade, malevolência e insensibilidade.
São os miseráveis: não aqueles imortalizados por Victor Hugo, mas os portadores de um tipo de decadência mais profunda e arraigada, que se manifesta independente de classe social: uma triste, corrosiva e imutável miséria moral.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.